Mamãe contava que, na década de 30, Curitiba era uma cidade tão pacata que dava para andar de bicicleta ou mesmo a pé por longos trajetos sem perigo algum.

Em se tratando de arte ela falava muito sobre o Teatro Guaíra, local de um bom gosto arquitetônico sem par e onde se apresentavam muitas e boas peças.

A Confeitaria Colombo, ela sempre falava, era outro lugar de encontro de famílias e amigos para tomar chá ou café da tarde. Muito chique e com requintada decoração, louças e atendimento, estava sempre lotada.

O Passeio Público era o único parque público da cidade sendo muito frequentado por todos. Havia a Praça General Osório também, onde mamãe sempre ia. Era lindíssima e frequentada pelas moçoilas e rapazes que ali iam passear e namorar.

Imagem ilustrativa da imagem Os cavalos do Prado Curitibano



Naquele tempo os carros eram pouquíssimos e os únicos transportes coletivos que havia eram trem e bonde. O bonde, ela dizia, parava em diversos pontos da cidade, demorando cerca de uma hora para perfazer o trajeto. Contava ainda que, a gurizada gostava de ir correndo atrás, mas que o que tinha mais charme eram os motorneiros porque sempre andavam muito bem vestidos e tratavam todos com muita gentileza.

Mas o passeio de que ela mais gostava mesmo era ir ao Prado Curitibano. Esse local sempre era um desfile de modas dizia ela, porque ali se admiravam as magníficas vestimentas das mulheres que eram compostas por chapéus de todos os tipos, "tailleurs" bem cortados ou então belos vestidos de gala com acessórios como: luvas, bolsas, sapatos e sombrinhas todos no estilo da alta costura.

Contudo, à parte do espetáculo que homens e mulheres ofereciam, minha mãe admirava e muito – outros protagonistas daquele Jockey: os cavalos. Admirava e dedicava a eles verdadeira paixão.

Lá no prado de corridas, como chamavam à época, ela contava que corriam lindos e caríssimos cavalos, tanto brasileiros quanto estrangeiros, de porte e belezas nunca antes vistos, tão bem criados e bem cuidados eram. Para ela esse era o melhor passeio: ver aquelas belezas dóceis nas raias e ao correrem, demonstrava o quão bem foram domados.

Os páreos sempre apresentavam esses animais lado a lado, quando mamãe se emocionava ao ver as lindas, brilhantes e escovadas pelagens e os trabalhos realizados nas compridas ou curtas crinas.

Menos do que amar o turfe, ela amava ver a exibição dos belos exemplares equinos se apresentando e trotando lentamente com seus miúdos e controlados passos, fazendo como que uma "dancinha" que ela adorava ver.
Ali eles apareciam com suas pernas enfeitadas de tiras brancas e, quando juntos, trotavam como se houvesse uma combinação prévia para levantarem e abaixarem as patas juntos. Essa parte do espetáculo trazia tanto encantamento e emoção que mamãe às vezes vinha às lágrimas quando nos contava.

Marina Irene Beatriz Polonio, leitora da FOLHA