Nossos vizinhos na Água do Mel no simpático município de Rondon, no Noroeste do Paraná, era uma família de cearenses, pessoal muito trabalhador. Lavozie, o chefe da família e Dona Mundinha, sua esposa, tinham vários filhos. Vieram para o Norte do Paraná para trabalhar nos cafezais. Em muitas noites, vinham nos visitar e como o casal gostava de uma cachaça, meu pai ia logo pegar o garrafão de pinga que ficava embaixo da pia da cozinha.

Quando era dia de matar porco, minha mãe chamava Mundinha para ajudar na lida. Ao entardecer, chegavam da roça os homens e já iam sentando nos bancos em volta do tacho de torresmo, que fervia. Comiam torresmo "regado" com a "branquinha". Lavosie era um zabumbeiro dos bons e sempre acompanhado por Mundinha no triângulo que arriscava umas músicas nordestinas, e com certeza, ajudava a matar as saudades do seu querido Ceará.

Num certo dia, Lavosie prometeu ao meu pai que iria pedir a seus primos lá do Ceará, para mandar dois bodes para Mundinha preparar para a festa de São João. Meu pai não entendeu como os "bichinhos" viriam para cá, pois naquela época o único meio de transporte era os lendários caminhões "pau de arara". Passaram alguns dias e nada de falar mais dos bodes. Meu pai então perguntou à Lavosie sobre os bodes.

- "Ah, seu Adelino, nem te conto", falou o cearense: "não é que o correio mandou para Marechal Cândido Rondon, mas já enviaram para cá". Duve, um catarinense que trabalhava para nós, foi logo perguntando: "- mas quem está tratando desses bichos, Lavosie?" - "Ora, ora Duve", exclamou Lavosie, "não são vivos, são mantas de carne de sol". - "Ah bom, exclamou Duve".

Imagem ilustrativa da imagem Os bodes de Lavosie



Enfim chegou a encomenda. Na noite de São João, o terreirão todo enfeitado com as bandeirolas coloridas, a fogueira acesa, a correria das crianças ao redor da mesma, então foi servido o prato preparado por Mundinha, o bode ao molho e com a farinha ao lado. Todos os presentes se serviram. Os nordestinos se deliciavam com o jantar, mas os demais não apreciaram, pois, o cheiro e o sabor eram muito fortes lembrando o animal vivo.

A Zu, uma morena bonita, filha de Cassimiro que morava do outo lado do córrego, não conseguia nem olhar na panela. Era a "patricinha" da época. Após o jantar, Lavosie, Mundinha e o sanfoneiro Abidias animaram o forró.
Mas enfim, valeu pela alegria dos nordestinos.