Mês de maio, mês dedicado às Mães e a Maria, Mãe de todos. Em Sertaneja, era um mês festivo. Havia uma lista de 30 famílias previamente estabelecida, que iam receber diariamente em suas casas, a imagem de Nossa Senhora. A família recebia o andor enfeitado com a imagem à noite, pernoitava e só era entregue no dia seguinte, à noite, em procissão.

Ao entardecer, as pessoas chegavam um pouco antes do horário, ficavam em rodinhas conversando, faziam sua oferta e na saída, soltavam-se foguetes, rojões. O andor ia à frente carregado por pessoas que se revezavam ao longo do caminho; logo atrás, os donos da casa e em seguida, as pessoas que iam acompanhar a procissão. Durante o trajeto, cantavam-se fervorosamente, músicas marianas, como: "A 13 de maio, na Cova da Iria... Ave, ave, ave, Maria...", " Com minha Mãe estarei, na santa glória um dia..." ou " Mãezinha do Céu, eu não sei rezar..." Rezava-se o terço e quando a casa era muito perto da Igreja, o reza terminava lá. Tudo com muita devoção, muita fé, cada pessoa com seu terço, as crianças com seus pais.

Alternando músicas e orações, chegava-se à Igreja. Colocava-se o andor no lugar determinado, e o Padre iniciava a santa missa. Terminada, levava-se o andor em procissão para a casa de outra família que estava acompanhando ou estava esperando em sua casa. Era interessante observar o andor, muitas vezes, tinha um enfeite diferente; cada família se esmerava em deixá-lo mais bonito. Todos admiravam e comentavam, parecia uma competição meio velada, e assim, todos os dias.

Imagem ilustrativa da imagem As procissões dedicadas a Maria



No último dia do mês de maio, realizava-se a coroação de Nossa Senhora. Era uma festa linda e envolvia toda a comunidade. Nós, as Cruzadinhas, íamos vestidas de anjos e, às vezes, uma ou outra criança que a mãe vestia de anjo por causa de alguma promessa. Vestíamos túnicas de cetim branca, azul ou rosa, com a parte de cima cheia de estrelinhas de metal, asas brancas de penas ou feitas de papel crepom. Armava-se na frente do altar uma arquibancada alta de madeira, onde ficavam todos os anjos. Lá no alto, no centro, ficava a imagem de Nossa Senhora, que tinha a cada lado, um anjo que cantaria uma música para colocar a palma, e outro que cantaria para colocar a coroa. Esses dois anjos eram escolhidos entre as crianças das Cruzadas ou do Catecismo (hoje Catequese). Ficávamos ansiosas para sermos escolhidas, principalmente para coroar a Nossa Senhora.

Os padres da minha época que passaram por Sertaneja, eram italianos e mal sabiam falar o português. Lembro-me do padre Jeremias e do padre Antônio Maria Catâneo, muito rígidos quanto aos trajes das mulheres e chamavam a atenção delas, mas eram muito dedicados e queridos por todos.

Maio. Mês lindo de Nossa Senhora!

Idimeia Castro, leitora da FOLHA