Personagens de "Sete Homens e um Destino: um clássico revigorado
Personagens de "Sete Homens e um Destino: um clássico revigorado | Foto: Reprodução



Desde que estreou em todos os continentes, semana passada, muito se tem especulado sobre a nova versão de "Sete Homens e Um Destino", 56 anos depois do homônimo western original de John Sturges e 62 da primeira versão, a japonesa "Os Sete Samurais" de Akira Kurosawa. Apesar de algumas reaproximações esparsas como "Django Livre" e "Os Oito Odiados" (ambos de Tarantino), "Os Indomáveis" e "Bravura Indómita" (refilmagens, e bem razoáveis), Hollywood não conseguiu recuperar nos últimos tempos o esplendor do mais clássico de seus gêneros. E neste sentido, "The Magnificent Seven", safra 2016, também não resulta um aporte substancial para a tradição de filmes do velho Oeste.
Isto não significa desprezo ou indiferença. Pelo contrário. Há muitos pontos (a maioria de evidente interesse) a destacar nesta retomada da saga dos insólitos cavaleiros solidários que ajudam por todos os meios a população da pequena cidade a se livrar do exército de um vilão da mais absoluta maldade. Claro, já não estão Yul Brinner, Steve McQueen, Charles Bronson, James Coburn, Robert Vaughn e Eli Wallach, mas neste elenco de agora há algumas quantas estrelas (Denzel Washington, Chris Pratt, Ethan Hawke e Vincent D’Onofrio) que dão bem conta do recado. E por obra desses tempos de correção política, há uma bastante funcional mélange, uma diversidade étnica e de inclusão que dá novas cores ao entorno: além dos cara-pálidas citados, Pratt, Hawke e D’Onofrio, em cena estão o mais popular ator afro-americano dos EUA, Denzel; um mexicano (Manuel Garcia- Rulfo), um sul-coreano (Byung-hun Lee) e outro indígena que representa os nativos da América do Norte, o pele-vermelha (Red Harvest/Martin Sensmeier). Completa o segmento das minorias a valente guerreira interpretada por Haley Bennett.

"Sete Homens e Um Destino": versão antiga e jamais esquecida
"Sete Homens e Um Destino": versão antiga e jamais esquecida



Quem dirige é Antoine Fuqua, que tem no currículo o excelente "Dia de Treinamento", um dos filmes mais celebrados e premiados de 2001. Vocês lembram, Denzel Washington faz o policial corrupto que deve iniciar na delinquência o novo parceiro, o novato ingênuo vivido por Ethan Hawke – e a partir daí os três tornaram-se amigos e fetiches mutuos em vários filmes. Para esta mesma Folha 2, entrevistei Fuqua naquele ano em Veneza, quando ele comentou sobre sua vontade de um dia filmar um western, gênero que o emocionou sempre, desde garotinho em Pittsburgh. O que ninguém sabia naquele momento é que o filme viria a ser, quinze anos mais tarde, este novo e muito honesto olhar sobre "Sete Homens..." Fuqua não tratou de inventar nada novo: filmou um faroeste clássico ambientado no século 19, com uma série de cenas arquetípicas (o prólogo do forasteiro entrando no saloon e o tiroteio inevitável, e o duelo coletivo ao final, culminando com a sequência reveladora ao pé do altar).
Mas a fidelidade ao recorte clássico, neste século 21, viria com certeza acompanhada de uma visão moderna: Fuqua não hesitou em contar com Nick Pizzolatto, o roteirista artífice da primeira e memorável temporada de "True Detective". Se na versão de 1960 a história acontecia num pequeno povoado do México, agora em 2016 o cenário é a vila de Rose Creek, assediada impiedosamente por um vilão exemplarmente contemporâneo, bem diferente do Calvero (Eli Wallach, saudosa memória, bandido mexicano que roubava galinhas e cereais dos camponeses. Agora o mal reencarnado é o magnata do ouro Bartolomew Bogue (Peter Sarsgaard), ávido por apropriar-se de terras alheias. Um predador que resume o espírito dos Estados Unidos, versão Trump, numa única e lúcida frase proferida no púlpito da igreja que acaba de invadir: "Este país ama acima de tudo a democracia, e equipara a democracia com o capitalismo, e o capitalismo com Deus..."
Por fim, a trilha musical, uma das últimas compostas pelo grande James Horner (e completada por Simon Franglen) antes do acidente aéreo que o matou em 2015. Composta, aliás, em segredo durante a pré-produção do filme. Uma trilha enérgica, mas sem a marca da perenidade que Elmer Bernstein imprimiu há seis décadas e que se tornou espécie de hino (um dos) à imortalidade do cinema. Tão forte que Fuqua se rende sem disfarces, e encerra seu filme com o tema principal, respeitoso e nostálgico. Um belo e emocionante fecho.