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| Foto: Arquivo Folha



Contraste
Os 40 anos da Av. Dez de Dezembro, com seus viadutos inteirinhos, ao contrário de outros recém inaugurados, fazem lembrar o secretário de obras que a idealizou e fiscalizou. Diante de tanta corrupção, por contraste vale recordar algumas historinhas dele.
Controlou tanto o custo da obra que sobrou dinheiro, e então ele desviou - para outras obras urgentes. Isso teria de ser autorizado pela Câmara, mas aí poderia demorar e complicar. E justificou:
- Não dizem que não se deve divulgar quando fazemos o bem? Então!
Éramos do mesmo partido, e ele tesoureiro me escalou para fazer churrasco arrecadador para 120 pessoas, que já estavam servidas quando chegam ele e o prefeito Richa com 30 inesperadas pessoas. Falei que não tinha mais o que servir, mas ele olhou as sobras e:
- Vamos requentar os pedaços grandes, e picar os pequenos para uma bela farofa.
Foi o milagre da multiplicação da costela, deu para todos, com muitos elogios para a farofa. Mas sobrou saco de pães, que ele passou a contar colocando em dois sacos, um para um asilo, outro para um orfanato. O último pão cortou em dois:
- Metade para um velhinho, metade para uma criança.
Quando prefeito, amanhecia e deparei com ele enfiado até os joelhos em valeta de obra. Disse que estava fiscalizando:
- Esta é a melhor hora, ninguém me acompanha às custas da Prefeitura e também não perco o expediente.
Um dia, no partido, falamos sobre a Expo. Que fazia falta lá uma área para o Iapar, a Embrapa e outras entidades mostrarem o que fazem, ensinarem a cuidar do meio ambiente etc. E ele:
- Mas não vamos ficar só na conversa, né? Vamos levar essa ideia lá!
Levou, e daí surgiu a Fazendinha na Expo. Mas, décadas depois, ouvi de um sindicalista:
- Dizem que esse prefeito foi tão honesto mas... todas as lâmpadas de rua, então, foram compradas da sua própria empresa.
Fui checar com seu vice-prefeito, Délio César, que confirmou. Ainda não existia a lei das licitações, bastava pedir preços a três empresas. Depois ele fornecia as lâmpadas à Prefeitura, por preço menor que o menor.
E, só depois que ele se foi, ficamos sabendo que, durante todos os então seis anos de mandato, doou o salário de prefeito para instituições de caridade. Não virou nome de rua nem de praça. Mas virou monumento na memória de quantos o conheceram. Seu nome, Wilson Moreira.

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| Foto: Dalva Vidotte/ Divulgação



Notícia da Chácara

MORANGA
Ela é uma de nossas heranças índias, como o tomate, o milho, a batata, o amendoim. Mas não plantamos morangas aqui na chácara: elas nascem onde enterramos o lixo de cozinha no pé de árvores. Depois de colhidas, duram meses e podem virar assado, cozido, sopa, doce, geleia, recheio de torta ou pastel. As sementes torradas são ótimas não só como aperitivo mas também para crocantemente misturar com sorvete. Também é boa para, com seu sabor levemente adocicado, educar crianças a apreciar legumes. As flores podem enfeitar salada – e ser devidamente comidas.
Gostamos muito também da cor, tão bonita e alegre, vale por uma visão anti-depressiva. Para mim, vale também por lembrar Vó Tiana, que colhia as pontas das folhas, as cambuquiras, cortava em pedacinhos e colocava na sopa depois de pronta, junto com queijo curado cortado em pedacinhos. As cambuquiras murchavam no calor da sopa, o queijo derretia, e lembrando a boca enche de água, como os olhos.