A história das grandes descobertas e inovações humanas está quase sempre marcada por uma pergunta em tom de indignação: "Como é que eu não pensei nisso antes?" A capacidade de enxergar o simples, mas invisível, é algo que extremamente raro. "Só os profetas enxergam o óbvio", escreveu Nelson Rodrigues. O exemplo clássico é o ovo de Colombo. Depois que o navegador genovês colocou um ovo em pé — e descobriu o caminho para o Novo Mundo — tornou-se fácil fazer o mesmo. Mas ter sido o primeiro é que são elas.

Estou lendo com grande prazer o livro "Antifrágil", de Nassim Nicholas Taleb. Autor libanês radicado nos Estados Unidos, Taleb ficou famoso por denunciar a fragilidade do sistema financeiro americano antes da crise de 2008, ganhou muito dinheiro na bolsa e escreve livros que reduzem a pó de traque os consensos acadêmicos e midiáticos sobre a previsibilidade dos acontecimentos sociais, econômicos, históricos e pessoais. O que me chama a atenção na obra de Taleb é a sua obsessão por um ou dois conceitos básicos, em torno dos quais ele desenvolve um fascinante e divertidíssimo universo de argumentação.

Uma das obsessões de Taleb é o Cisne Negro, nome que ele dá aos acontecimentos absolutamente imprevisíveis que causam grande impacto e mudam a história das sociedades e dos indivíduos. O 11 de setembro, a Primeira Guerra Mundial, a ascensão de Hitler, a queda do Muro de Berlim, a descoberta da penicilina, a crise de 1929, a revolução industrial, o desastre de Chernobyl e o surgimento da Internet são cisnes negros que, para o bem ou para o mal, modificaram o destino do homem sobre a Terra. Cedo ou tarde, eles vão acontecer. Depois que acontecem, é fácil formular teorias sobre suas causas. Mas estar preparado para eles é que são elas.

A expressão "cisne negro" foi usada em um verso do poeta satírico romano Juvenal, por volta do século I: "Uma mulher valorosa como as sabinas é algo tão raro quanto um cisne negro". Na Roma antiga, cisne negro era simplesmente o nome para algo que não existia. Mas, com a descoberta da Austrália, no século XVIII, constatou-se que esses animais realmente existiam!

Outra ideia obsessiva de Nassim Taleb é o conceito de antifrágil. Ou seja, tudo aquilo que não apenas resiste ao caos, mas acaba por se beneficiar dele. Seu livro mais recente ensina a viver bem em um universo permeado por acontecimentos assimétricos e imprevisíveis. O que não destrói o antifrágil acaba por fortalecê-lo.

Cristão que fugiu do Líbano após a guerra civil que devastou o país, nos anos 80, Taleb é o antifrágil por excelência — um escritor absolutamente imune aos modismos acadêmicos e às camisas de força ideológicas de nosso tempo. E também é um frasista genial, da estirpe de Karl Kraus e Nelson Rodrigues. Acesse meu blog para ler algumas tiradas do autor: www.folhadelondrina.com.br/blogs/paulo-briguet/