Uma conta díficil para pôr na ponta do lápis, quando os números da operação aritmética são representados por vidas humanas, mas cujo resultado pode ser ilustrado pela afirmação: ''O ser humano é um só e aquele que precisa de atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) deve contar com o serviço''.
O comentário do superintendente da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Londrina (Iscal) Fahd Haddad, não destoa do senso comum que diz que ''uma vida não tem preço''. Porém, a falta de leitos de alta complexidade nos hospitais de Londrina levanta um questionamento sobre quanto custa, realmente, manter uma pessoa internada nesse tipo de serviço.
Numa entrevista concedida à Folha o médico Sinésio Moreira Júnior, diretor clínico do HU, reconheceu a dificuldade de transferir pacientes graves para outros hospitais. Segundo ele, pelo menos 70 pessoas teriam morrido até dezembro no hospital, esperando por vaga em leito de alta complexidade. Um dos nomes da lista é o de Ana Lanza, 78 anos, que morreu no Pronto Socorro antes de conseguir ser transferida para a UTI.
Para montar essa conta, com números que muitas vezes resvalam no subjetivo, já que não se pode avaliar o valor de uma vida, a Folha parte da pergunta: ''Quanto custa montar uma UTI?''
A 17 Regional de Saúde trabalha com um total de 129 leitos de UTI, sendo 94 para atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Considerando o número de leitos adultos, pediátricos e neonatais, o Hospital Evangélico (HE) possui 24 leitos, a Iscal 35 leitos, o HU 29 leitos e o Instituto de Câncer de Londrina (ICL) seis unidades.
Na região são 239 leitos que atendem uma população de 1.791.846 habitantes. Deste total de vagas, 197 estão credenciadas ao SUS.
''Quanto custa montar uma UTI? Depende de quanto se quer investir. Existem cidades que têm leitos, mas não fazem cirurgias de alta complexidade, como torácica, não possuem neurologistas, dão os primeiros atendimentos para um paciente infartado, mas não têm um centro de hemodinâmica para fazer um cateterismo. Você me pergunta quanto custa uma UTI? Eu respondo: Depende'', afirma o superintendente do HU, o médico Francisco Eugênio Alves de Souza.
A portaria do Ministério da Saúde que estabelece critérios de classificação entre as UTIs, estabelece, entre outras coisas, que as unidades são destinadas aos pacientes graves ou de risco e que devem dispor de assistência médica e de enfermagem ininterruptas, com equipamentos específicos próprios, recursos humanos especializados e que acesso a outras tecnologias destinadas a diagnósticos e terapêutica.
A regulamentação ainda diz que todo hospital terciário, com capacidade instalada igual ou superior a 100 leitos, deve dispor de leitos de tratamento intensivo correspondente a no mínimo 6% dos leitos totais.
Para cada 10 leitos é preciso uma equipe básica composta por um responsável técnico com título de especialista em medicina intensiva ou com habilitação em medicina intensiva pediátrica, um médico plantonista, um enfermeiro, fisioterapeuta, um auxiliar ou técnico de enfermagem para cada dois leitos, um enfermeiro coordenador, exclusivo da unidade e um funcionário com exclusividade responsável pelo serviço de limpeza.
Além de cirurgião geral ou pediátrico, torácico, cardiovascular, neurocirugião e ortopedista, o hospital precisa ter laboratório de análises clínicas disponível 24 horas e uma lista de aparelhos na unidade.''Temos respiradores, por exemplo, que custam R$ 30 mil e existem aparelhos que devem estar custando R$ 120 mil. O primeiro tem funções mais simples, é de baixa durabilidade. Às vezes, um paciente com um trauma de crânio pode ficar em um respirador simples. Porém, se ele pegar uma pneumonia hospitalar, esse aparelho não resolve. Hoje, temos monitores cardíacos que nos dão o ritmo, a frequência arterial e o quanto está indo de oxigênio e a temperatura do paciente'', explica Souza.