A queixa sexual de maior prevalência no universo feminino é a de se obter o prazer orgástico. O orgasmo é definido como uma descarga de tensão muscular numa série de contrações, e representa o auge do prazer sexual, tanto para a mulher quanto para o homem.
Além dessa definição, podemos considerar que essa experiência é muito mais ampla e está interligada a muitos outros fatores. Se avaliarmos pelo crivo da educação, pode-se verificar que a mulher não foi incentivada para a vivência do erotismo e de sua expressão orgástica. Para complicar um pouco mais essa temática, o modelo de mulher propagado para despertar o prazer masculino é ''produzido'' e, portanto, pouco acessível na realidade.
E é um modelo atrelado ao apelo de consumo. A mulher ''gostosa'', com ar de malícia, ou muitas vezes somente as partes do corpo feminino (bumbum, pernas, peitos) vendem carros, eletrodomésticos, e assim por diante.
Só que esse modelo vem acompanhado de um ''padrão ideal'' dirigido para a supremacia da aparência jovial e sedutora, ou seja, de uma filosofia que confronta com os valores que eram transmitidos às mulheres no passado, de que pensar em sexo ou prazer sexual era vulgar.
Com isso, não nos cabe responsabilizar alguém, mas fazer um alerta para os prejuízos da aceitação desse modelo como uma verdade absoluta. A obsessão por alcançar esse modelo interfere na possibilidade de exploração de outros aspectos que poderiam elevar a satisfação erótica.
A resposta sexual de orgasmo é consequência de etapas bem sucedidas que a antecedem, e a primeira delas é a do desejo sexual. É nesta fase da resposta sexual que se observa o nível (e a qualidade) de motivação da pessoa para a situação sexual.
O excesso, a ausência ou o rebaixamento de desejo sexual são aspectos que decidirão a qualidade da relação que a mulher estabelece com o seu prazer sexual. O clima de envolvimento do casal interfere nesta fase (elevando ou diminuindo a motivação sexual), assim como os desencontros na expectativa do contato íntimo.
Outra etapa que antecede a resposta orgástica é a fase da excitação sexual. Nesta fase o corpo da mulher se modifica, o espaço virtual e seco da vagina se transforma num receptáculo expandido, lubrificado e ingurgitado - assim como o alto das coxas, barriga, peito e rosto também recebem maior quantidade de sangue nesta fase.
O clitóris fica mais aparente e responsivo à estimulação física. Os grandes lábios se retraem e os pequenos lábios se expandem. A diminuição ou ausência de alguns desses fatores fisiológicos pode impedir a mulher de ter um exercício sexual satisfatório.
A última fase da resposta sexual e a responsável pelas maiores dificuldades femininas é a do orgasmo. A dificuldade ou incapacidade de se experimentar orgasmos é denominada anorgasmia. É considerada anorgasmia absoluta quando não se experimenta prazer em nenhuma oportunidade - nem na penetração nem na masturbação. A fantasia criada pela mulher em torno do orgasmo tende a dificultar a experiência de satisfação sexual.
É comum aparecer a expectativa de um prazer tão forte e inusitado, que ela deixa de viver as sensações agradáveis e crescentes que a levariam ao orgasmo. A fantasia feminina de que o orgasmo é uma sensação obtida somente com a penetração também concorre com o seu insucesso.
O orgasmo é um prazer que não depende exclusivamente do clitóris ou da vagina, embora o clitóris seja uma fonte rica de inervação para ser estimulada. Porém, o cérebro é o centro desencadeador do orgasmo, experiência que ocorre a partir de um conjunto de fatores que podem elevar a excitação até o seu ponto máximo.
Portanto, vale a pena considerar todos os aspectos que giram em torno de uma possibilidade de contato com o prazer e analisar se a potencialidade dos mesmos é para a obtenção de uma gratificação sexual ou para uma urgente mudança de paradigma.

Margareth Reis, psicóloga clínica e terapeuta sexual do Instituto H. Ellis (SP)