Um grupo de estudantes de graduação na área de saúde tem levado arte a hospitais de Londrina como forma de promover a humanização do atendimento aos pacientes. O grupo Sensibilizarte, formado exclusivamente por alunos da área de saúde da UEL (Universidade Estadual de Londrina), completa dez anos em 2017 e já entrou para a história do HU (Hospital Universitário) ao invadir os corredores da instituição com música, arte, histórias, palhaçadas e principalmente alegria.

Os estudantes Débora Corsino, de psicologia, Márcio Souza, de enfermagem, e Rebeca Beckner, também de psicologia, fazem parte da coordenação do Sensibilizarte e explicam que a experiência de participar do grupo é transformadora. Com mais de cem alunos divididos em quatro frentes – de música, artesanato, contação de histórias e palhaços -, eles fazem visitas aos pacientes internados no Hospital Universitário (HU) e Hospital do Coração.

Participam da iniciativa apenas alunos da área de saúde, dos cursos de educação física, enfermagem, farmácia, odontologia, psicologia, serviço social, medicina e fisioterapia. "O objetivo é desenvolver a humanização dos estudantes, pois quase não há discussões sobre o tema nas graduações", justificam.

Os coordenadores relatam que o assunto é abordado de forma teórica e em poucas oportunidades no currículo dos cursos, o que criou a necessidade de estimular uma visão diferente nos alunos. "A falta de humanização ocorre principalmente por falta de conhecimento. Muitos profissionais não escutam com atenção os pacientes para saber o que sentem. É preciso que sejam considerados na totalidade", defendem.

Estudantes  "invadem" os corredores do HU com música, arte, histórias, palhaçadas e alegria
Estudantes "invadem" os corredores do HU com música, arte, histórias, palhaçadas e alegria | Foto: Gustavo Carneiro



A superlotação inerente à maior parte dos serviços públicos de saúde muitas vezes dificulta o atendimento humanizado, mas não pode ser justificativa para atitudes como não chamar os pacientes internados pelo nome, por exemplo. "Além disso, as pessoas têm crenças e costumes que precisam ser respeitados", pedem.

Foi diante desta realidade que, em 2007, alunos de medicina identificaram a necessidade de humanizar o atendimento pelos profissionais de saúde e criaram o grupo. Apenas em 2014, porém, o Sensibilizarte ganhou status de projeto de extensão, o que garante aos participantes uma certificação vinculada à universidade.

Os voluntários acreditam que o trabalho também sensibiliza profissionais que encontram pelo caminho, durante as visitas, e comemoram cada relato de melhora dos pacientes. "Os funcionários dão esse feedback, que é muito interessante", avaliam.

Outra premissa do trabalho é garantir às pessoas internadas o direito de dizer não. "Quando o paciente não quer participar da atividade, a gente respeita. Quem está no hospital precisa aceitar muitos procedimentos incômodos sem recusar. Para a gente eles podem dizer não", explicam.

A base teórica para o trabalho é o Plano Nacional de Humanização em Saúde. Uma grande inspiração, entretanto, é o médico norte-americano Patch Adams, que defendeu a humanização do atendimento em saúde e difunde por todo o mundo o conceito de que a alegria pode ser uma poderosa aliada no tratamento de doenças.

CAPACITAÇÃO
Para integrar o projeto, estudantes interessados devem passar por uma capacitação. O ponto inicial é um simpósio organizado todos os anos pelos estudantes, onde apresentam o projeto e debatem temas relacionados à necessidade de atendimento mais humano nos serviços de saúde. Após essa fase, os interessados se inscrevem, passam por processo de seleção e, quando passam a integrar o grupo, fazem uma capacitação para levar a arte e a alegria aos hospitais sem ferir as regras desses locais.

Saber música, teatro ou artesanato não é um pré-requisito para participar. "O mais importante é ter vontade", afirma Rebeca, que integra a frente de música apesar de não ser uma especialista no tema. Márcio, que atua no grupo de palhaços, conta que teve a experiência de ficar internado na infância e por isso aderiu ao projeto. "Era muito chato e qualquer motivo para distração me ajudava", recorda.

A decisão de ser palhaço, para ele, foi um desafio para sair da própria zona de conforto. "É um trabalho muito impactante. Nem sempre conseguimos fazer as pessoas rirem, mas o simples fato de conversar com elas já ajuda muito", conta ele.

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