Ao cruzar a porta de entrada de um bar, boate ou casa de shows, o cliente não pensa em outra coisa senão ter uma noite de diversão agradável na companhia de amigos. Mas e se durante a noitada uma lata voa contra sua cabeça durante uma briga na mesa ao lado? Quem deve chamar socorro imediato? Quem pode ser responsabilizado pelos ferimentos causados? Dependendo do contexto e do desenrolar dos fatos, tanto o agressor quanto os responsáveis pelo estabelecimento podem ser acionados até judicialmente pela vítima, respondendo criminal e civilmente pelos danos causados.
A cena narrada acima aconteceu no último sábado com uma secretária na casa de shows Rancho Brasil, na Avenida Tiradentes (Zona Oeste de Londrina). Sem se identificar, ela contou que acompanhava o show que acontecia no palco quando, durante uma confusão próxima, foi atingida no rosto por uma lata de cerveja. Como estava cheia, a lata explodiu em sua testa e, segundo avaliação feita no pronto socorro do Hospital Mater Dei, a jovem teve traumatismo craniano leve e ficou com os olhos inchados e com hematomas.
Mas o que teria levado a secretária a registrar queixa na Delegacia da Mulher contra a casa noturna não foi propriamente o ferimento que sofreu mas a forma como teria sido tratada por funcionários ao pedir socorro. ''Eu pedi para falar com o gerente mas uma funcionária só dizia que a casa não tinha responsabilidade. Pedi uma lista telefônica para ligar para meu convênio médico e tive que esperar mais de meia hora. Eles me mandaram até procurar um telefone público. Acho que foram omissos'', relatou a vítima, que contratou advogado para acionar o estabelecimento na Justiça.
O advogado da casa de shows, Danilo Serra Gonçalves, confirmou o episódio mas alegou que o gerente e uma funcionária acionaram o socorro de emergência a pedido da secretária. Ele informou ainda que o lugar possui material de primeiros socorros, apenas na pista de dança ficam mais de 20 seguranças e que os funcionários estão orientados a comunicar qualquer fato estranho à gerência para que seja acionado atendimento médico ou a Polícia Militar.
O superintendente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares (boates e casas de show), Alzir Bocchi, destacou que a entidade oferece cursos sobre o assunto para pessoal de portaria, atendimento ao cliente e seguranças para prepará-los para prestar o atendimento necessário. ''Esses cursos vêm amenizar o problema para que não se agrave'', observou Bocchi, lembrando que no verão o consumo de bebida alcoólica aumenta e os ''excessos'' também.
Bocchi afirmou que os estabelecimentos estão instruídos para chamar rapidamente ambulâncias em situações com feridos e pedir auxílio policial. ''Serve para salvaguardar o bom nome do estabelecimento e (como prevenção) contra discussões judiciais. Até porque, se vier a tona hoje um episódio desagradável ligado à violência, o estabelecimento está fadado ao fechamento'', apontou.
Para poder abrir suas portas, bares, boates e casas de shows precisam cumprir uma série de exigências em diversas instâncias (leia nesta página) que compreendem medidas preventivas contra sinistros e de saúde pública. Em outras situações, como briga entre clientes ou tumultos, o relações públicas da Polícia Militar, tenente Ricardo Eguedis, explicou que ''o estabelecimento pode ter responsabilidade sobre algumas coisas mas vai depender de cada caso em particular''. Assim como fez a secretária, o tenente orientou que quando o cliente se sente prejudicado deve acionar a Polícia Militar e registrar queixa na Polícia Civil para que a situação seja investigada.