Inserir alunos cegos ou com deficiência física no ambiente escolar ainda é um grande desafio. Se dentro das salas de aulas os professores hoje contam com alguns recursos pedagógicos, nas quadras de esporte ainda há muitos obstáculos a serem vencidos. Com o objetivo de minimizar esse problema, o Centro de
Apoio Pedagógico para Atendimento a Pessoas com Deficiência Visual (CAP), vinculado à Secretaria Estadual de Educação, está capacitando professores da rede pública através do curso de Educação Física Adaptada.
Uma das atividades propostas é fazer com que os professores vivenciem na prática as dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência. Para chegar a essa meta, os docentes participam das aulas com os olhos vendados ou então sentados em cadeiras de rodas. ''Dessa forma os professores têm a oportunidade de sentir na pele o que os estudantes cegos ou cadeirantes sentem durante as atividades esportivas'', afirmou Shirlei Sambatti, coordenadora do CAP em Londrina.
Durante o curso, que tem carga horária de 40 horas, os professores aprendem ainda como fazer adaptações para que os alunos portadores de deficiência possam participar das aulas de Educação Física junto com os demais estudantes. ''No caso de alunos com deficiência visual, ensinamos a utilizar bolas com sinais sonoros (guizos) nas aulas de futsal. Contando com esse recurso e tendo um guia para indicar a localização da bola e da trave, os alunos cegos ou com pouca visão podem participar normalmente das aulas.
''Também ensinamos adaptações que podem ser feitas para as aulas de basquete, vôlei, handebol, entre outras'', explicou Odair Rodrigues Sales, professor de Educação Física com especialização em Educação Especial, um dos docentes do curso do CAP.
A capacitação, que teve início em agosto e será finalizada na última semana de setembro, é feita na quadra de esportes dos Colégio Estadual Dario Vellozzo, no Jardim Presidente (Zona Oeste de Londrina). Nos próximos encontros, que acontecem às sextas-feiras, os professores participarão das aulas sentados em cadeiras de rodas.
''Vamos ensiná-los a manusear as cadeiras para que eles tenham mais intimidade na hora de trabalhar com alunos que se tornaram cadeirantes devido à paralisia cerebral. Vamos mostrar como é possível inseri-los nas aulas de educação física através de jogos e recreações específicas como volei e bocha sentados'', afirmou a especialista em Educação Especial Edilene Fredegoto.
Ela esclarece que o ideal é que todos os alunos participem das atividades adaptadas. ''Não faria sentido os alunos com deficiência ficarem isolados. Por isso, todos os estudantes devem participar das aulas sentados, no caso das aulas com cadeirantes, ou atuando como guias dos deficientes visuais'', enfatizou.
O treinamento está sendo ofertado em parceria com a Universidade Estadual de Londrina e conta com a participação de 20 docentes da rede pública e cinco estudantes da UEL. ''A universidade fica responsável pela certificação dos professores e em contrapartida oferecemos a capacitação a alunos da UEL para que eles possam iniciar a carreira'', esclareceu a coordenadora do CAP em Londrina.
Entusiasmo
Professor de Educação Física na rede estadual de ensino em Rolândia (Norte) há 18 anos, Fernando Fernandes já está aplicando na prática o que tem aprendido no curso. ''Tenho dois alunos cegos, três com deficiência física e dois com baixa visão. Comecei a desenvolver as atividades propostas neste curso e já percebi que eles ficaram muito mais entusiasmados durante as aulas. Antes a gente não sabia muito bem como lidar com essa situação, agora já podemos fazer isso com segurança. O curso está sendo muito válido'', afirmou.
''É muito satisfatório perceber que aqueles alunos que antes se sentiam retraídos agora também brincam e se divertem'', destacou Rosemary Lázaro, professora da rede estadual em Ibiporã. ''O ideal seria que todos os professores participassem desse curso, pois é uma experiência muito rica e reveladora'', ressaltou Aldecir Betanim, docente da rede municipal de ensino de Rolândia.