A correria da vida moderna acaba impondo responsabilidades nem tão agradáveis às pessoas. Entre elas, grandes cargas de trabalho, muito tempo fora de casa que, inevitavelmente, fazem que o convívio com a família acabe ficando em segundo plano. O ato de sentar-se à mesa nas refeições com os filhos reunidos, por exemplo, fica restrito à comemorações ou datas festivas.
Recentemente, uma pesquisa do governo do Reino Unido concluiu que crianças que fazem regularmente as refeições com os pais têm quase o dobro de chance de tirar notas boas na escola, comparadas àquelas que não desfrutam desse hábito. E, adolescentes que adotam esse ritual, apresentam menores probabilidades de se envolverem em brigas ou de serem suspensos da escola. Também ficariam menos vulneráveis ao uso de drogas, sexo sem proteção e depressão.
''Nesse tipo de encontro familiar, a criança sente-se acolhida e apoiada, o que ajuda no seu desenvolvimento'', ressalta a terapeuta de casais e família, Magdalena Ramos. ''Já os adolescentes, quando têm uma boa relação dentro de casa, querem preservá-la e, portanto, não precisam se drogar para se sentirem bem'', diz.
Para alegria do funcionário público Valeriano Lopes, é bem assim que acontece em sua casa. ''O costume de sentar-se à mesa para a refeição é um hábito que vem desde a minha família. Todos esperávamos meu pai chegar do trabalho para comer. Porém, não havia conversa, pois era uma outra época; diferente de como ajo com meus filhos. Para nós, esse é um momento de colocarmos a conversa em dia, resolver e saber dos problemas do outro e ainda de descontração'', comenta ele, que faz questão de manter o costume, mesmo com os três filhos já crescidos.
Como os horários de cada um do café da manhã e do jantar são diferentes, o almoço é o momento da família. ''Tento sempre evitar almoçar fora para poder me reunir com a família. Ter esse momento só nosso permite a aproximação dos filhos e principalmente o fortalecimento da família. A TV fica desligada e também não pode sair da mesa e ir para sala, por exemplo. Mas tudo é feito de uma forma agradável; não tem nada de obrigação'', diz, para completar: ''Quando falta alguém, não é a mesma coisa.'' Ele tem um filho morando na Espanha e outra filha prestes a embarcar para uma missão na China.
Forte aliada Valeriano encontra na esposa Páscoa. ''O fato de sempre estarmos compartilhando o dia a dia, sem dúvida, fortalece nossa família. Evita muitos conflitos pela falta de conversa.''
Bom para os pais, melhor para os filhos. É assim que vê a filha do casal Paula Palhares Lopes, 25 anos. ''Para nós, a hora do almoço é sagrada. É momento de conversar, e principalmente compartilhar. É na refeição que colocamos o assunto em dia. Também aproveito para resolver alguma pendência de uma vez, já que os dois (pai e mãe) estão juntos. Não sei o que é não almoçar em família reunida; não consigo enxergar de outra maneira'', diz.
Mas os almoços diários não se restrigem aos dias da semana; sábado é dia de reunir a família toda. Toda mesmo. Matriarca da família, dona Maria Amélia Palhares prepara comida para 18 pessoas. ''É o dia da comida da vó. É quando todos conseguem se reunir, por causa do trabalho durante a semana'', destaca a mãe de Páscoa, hoje com 74 anos. (Com Agência Estado)