Lucimara Aparecida Diniz ficou emocionada com a atitude das crianças: "Elas têm a bondade no coração"
Lucimara Aparecida Diniz ficou emocionada com a atitude das crianças: "Elas têm a bondade no coração" | Foto: Ricardo Chicarelli



As redes sociais, quando usadas sem o devido cuidado, podem prejudicar pessoas e deixar marcas que vão muito além das físicas. No caso de Lucimara Aparecida Diniz, 42, que no início de novembro foi vítima de um postagem falsa na internet, o episódio mostrou que em meio a tantas ofensas recebidas, a solidariedade também pode ser uma marca do ambiente virtual.

Diniz é uma pessoa bastante conhecida, principalmente por aqueles que passam pelo Calçadão de Londrina, em frente a uma agência bancária. Ela teve poliomielite quando pequena e sobrevive da solidariedade das pessoas. Nesta segunda-feira (11), ela recebeu doações de alunos da Escola Municipal Professor Leônidas Sobrinõ Porto, que, sensibilizados com a história da mulher, resolveram fazer uma campanha.

Segundo Elisandra Ventura de Andrade, professora do quinto ano da instituição localizada na zona oeste, a proposta de ajudar Diniz foi trazida por um estudante no projeto Folha Cidadania, que é desenvolvido nas escolas pela FOLHA em parceria com prefeituras de Londrina e região, empresas e entidades.

"No dia do projeto o aluno veio com a história dela e todos ficaram pensando como ajudar. Eles pesquisaram muito sobre o caso dela e a repercussão que gerou. A partir disso pensaram como aquela situação negativa poderia ser revertida e se tornar algo positivo. Foram os próprios estudantes que se organizaram e arrecadaram alimentos, fraldas geriátricas e produtos de limpeza", contou a educadora. Por conta do apelo solidário, toda a escola, que possui 540 alunos, acabou ajudando. No total, cinco caixas cheias de produtos e alimentos foram angariadas.

A sala responsável por organizar a campanha batizada de "União do bem" foi representada na entrega por três alunos. Ana Clara de Souza, 11, que esteve presente, afirmou que todos ficaram felizes em poder ajudar. "Ficamos agradecidos por fazer isso. É uma oportunidade de colaborar com quem precisa e que passou por dias ruins. Todos se envolveram e vimos que não importa a deficiência do próximo, pois todos somos iguais", destacou.

Para o estudante Marcos Daniel de Souza, 11, o aprendizado foi importante para todos os colegas de classe, escola e professores. "É muito bom poder fazer o bem, porque um dia podemos precisar. O essencial é o que temos dentro de nós e não a aparência", resumiu. "Entendi o valor das pessoas e que a internet não pode servir para fazer o mal ao outro, mas sim gerar alegria", acrescentou Enzo Pablo Isaias, 10.

REFLEXO NA VIDA
No Calçadão diariamente há 20 anos, já que não pode trabalhar por conta da deficiência, Lucimara Aparecida Diniz ficou emocionada com a atitude das crianças. "Elas têm a bondade no coração. Isso é motivo de comemoração, pois se esta geração for assim teremos uma sociedade muito mais humanizada", resumiu. Vivendo de doações, e com a mãe de 74 com vários problemas de saúde, ela estava precisando dos produtos, principalmente as fraldas geriátricas. "São caras e nem sempre consigo comprar."

A história de Diniz também serviu para fomentar o debate sobre os perigos das redes sociais, preconceito e a doença que ela possui. "Os alunos aprenderam a se colocar no lugar do outro, respeitando as diferenças, e a praticar a tolerância. Além disso, o projeto vem ajudando no comportamento deles na sala de aula e com toda a certeza vão levar isso para a vida, ainda mais por pertencerem à geração conectada", elencou a coordenadora pedagógica da escola, Andréa Pereira Cruz.

'As pessoas me olhavam feio'

No dia 8 de novembro de 2017, Lucimara Aparecida Diniz chegou cedo ao Calçadão de Londrina para começar sua rotina. Entretanto, em pouco tempo, viu que o dia não seria tranquilo como imaginava. Uma foto de uma mulher, muito parecida fisicamente com ela, viralizou em grupos de conversas instantânea e páginas na internet. Na imagem, a mulher estava junto com um rapaz em uma praia. Nos comentários postados, pessoas disseram que "ela não precisava do dinheiro que recebia" e que estava "enganando e se aproveitando dos outros."

"Várias pessoas vieram mostrar essa imagem e fiquei sem entender nada. Porém, aos poucos fui digerindo o que tinha acontecido e vi que era vítima de uma postagem falsa. Me ofenderam muito por causa disso. Ficaram me xingando aqui no Calçadão, as pessoas passavam e me olhavam feio. Foi um período muito difícil e que sofri sem ter feito nada", relembrou.

Natural de Osvaldo Cruz, em São Paulo, ela teve poliomelite com apenas oito meses de vida. Desde então, teve o crescimento comprometido com a atrofia de parte dos músculos do corpo. Para se locomover, usa um carinho de bebê. O dinheiro que arrecada de doações durante o dia é usado para a sobrevivência dela e da mãe, que moram próximas ao Terminal Central.

De acordo com ela, o episódio nas redes sociais, que associou sua imagem a uma outra pessoa, fez com que repensasse várias questões sobre as pessoas que julgam sem conhecer. "Todos têm que se conscientizar que por trás de tudo existe um ser humano. Seja comigo ou outros que passam por isso, o respeito deve estar acima de tudo. Hoje superei e estou feliz, mas nunca vou esquecer."