O Paraná fechou o primeiro semestre com números positivos em transplantes realizados. A quantidade de doações cresceu 28% neste ano na comparação com igual período de 2015, saltando de 124 para 159. De janeiro a junho, foram 302 transplantes em 283 pacientes, alcançando um recorde nesse tipo de procedimento. Apesar dos números animadores, ainda é alto o índice de famílias que se recusam a doar os órgãos de pacientes com diagnóstico de morte encefálica. Segundo a Central Estadual de Transplantes (CET/PR), a média de rejeição à doação de órgãos entre os paranaenses fica entre 38% e 40% dos casos de morte encefálica com viabilidade para transplante. Em Londrina, essa média é ainda maior e passa de 60%, segundo dados da Central de Transplantes da Regional Norte.

"Por isso é importante esclarecer, ainda tem muitas dúvidas", disse a assistente social da CET/PR, Glaucia Repula. São diversos os motivos que levam as famílias a dizerem não ao serem procuradas pelos profissionais da rede de transplante. O principal deles é respeitar a vontade do parente, que não era doador em vida. Mas há também questões religiosas, falta de consenso na família, familiares que lembram da aversão do parente por cirurgias, receio de que os órgãos sejam desviados para uma rede de tráfico, deformidades no corpo que possam ser visíveis durante o velório e há até o medo de que a morte seja "apressada" para que os órgãos possam ser doados.


NOVA CHANCE

Há 15 anos o aposentado Antonio Tavares da Silva, de 60 anos, recebeu um novo coração. Do diagnóstico da Doença de Chagas até a cirurgia que lhe deu uma segunda chance de vida foram sete anos de muito sofrimento. A história começou a mudar em outubro de 2001 quando a família de um rapaz de 19 anos que teve morte encefálica após sofrer um acidente de moto autorizou a doação dos órgãos.

O coração de 34 anos de existência que hoje bate no peito permitiu que Antonio acompanhasse o crescimento dos três filhos e o nascimento dos netos Pedro Henrique e João Pedro, emoções das quais ele teria sido privado não fosse o gesto de amor e de desprendimento de uma família que em um momento de dor pela morte precoce de um parente optou por prolongar a vida de um desconhecido. "Eles me deram uma nova vida e a chance de viver mais um pouco."