Joel Alvarenga Junior e Lucas Queiroz, estudantes da UEL: persistência e dedicação
Joel Alvarenga Junior e Lucas Queiroz, estudantes da UEL: persistência e dedicação | Foto: Saulo Ohara



De cada 25 mil pessoas que entram na graduação de física anualmente no Brasil, a expectativa é que apenas mil se formem. O desafio para concluir o curso está na complexidade dos conhecimentos necessários para receber o título de "físico", por isso, uma pessoa formada nesta graduação dificilmente ficará desempregada. "A demanda por professores é muito grande. Entre todos os que ensinam a disciplina no Brasil, apenas 27% são efetivamente formados em física. Os egressos do curso não vão sentir dificuldades para se posicionar no mercado", revela Alexandre Urbano, doutor na disciplina e professor do Departamento de Física da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Para divulgar o curso e atrair mais interessados em exercer a profissão, o Departamento de Física promove anualmente o evento "Física para o Ensino Médio", um ciclo de palestras para estudantes interessados em saber mais sobre a profissão. O evento de 2017 foi realizado em setembro. O próximo passo é incentivar nas escolas de ensino médio a criação de clubes científicos e o retorno das feiras de ciências. "A ideia é resgatar a importância das ciências na sociedade e minimizar a carência em educação científica."

Aos interessados em fazer parte do seleto grupo de físicos, Urbano avisa que é preciso muita dedicação para concluir o curso que, na UEL, é ofertado em período integral. Faz parte da formação deste profissional "saber tudo relacionado física" e, não à toa, no próprio curso de graduação da universidade as diferentes disciplinas são ministradas por todos os professores, em forma de rodízio. "Todos os conteúdos são relacionados. As dificuldades são tantas que é melhor saber tudo", brinca.

Ele próprio, além de dar aulas, pesquisa ciência dos materiais. Na UEL há 15 anos, conta que sempre gostou das disciplinas exatas e, no ensino médio, foi motivado a estudar física por dois fatos efervescentes na época. Um deles era o debate sobre a popularização da engenharia genética. Em seguida, em 1986, houve o acidente nuclear em Chernobyl, na Rússia, e o vazamento de Césio-137 no ano seguinte em Goiânia. "Esses fatos movimentaram a física no mundo e a profissão ficou em evidência", recorda, justificando a escolha pelo curso.

Como todo profissional formado nesta ciência, Urbano saiu da faculdade e partiu para o magistério, dando aulas no ensino médio até iniciar carreira como professor e pesquisador da UEL. Ele conta que, no Brasil, todos os caminhos levam os físicos às salas de aula. Quem escolhe bacharelado vai dedicar parte da vida profissional à pesquisa, por meio de pós-graduação – o que inclui mestrado e doutorado.

"Mas mesmo nesse caso o profissional terá que dar aulas, pois nas universidades brasileiras não há a opção de ser apenas pesquisador", explica, lembrando que a graduação do bacharel será focada nos modelos físicos mais importantes. "Quem estuda física precisa saber desde a filosofia de Aristóteles até mecânica quântica", exemplifica.

Já quem opta pela licenciatura recebe formação em física e também na área de didática para aprender a ensinar essa disciplina que ainda assombra muitos estudantes no Brasil.

COMPREENSÃO
A falta de professores formados na disciplina, para ele, prejudica o ensino das ciências em todo o País. Isso porque, no curso de licenciatura, os alunos aprendem não só a compreender a física, mas a ensinar de forma motivadora e eficiente essa matéria cheia de particularidades, que precisa ser comprovada para ser entendida. "O professor que entende isso vai facilitar a compreensão por parte dos alunos", acredita, lembrando que a UEL oferece o Pecem (Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática), cujo objetivo é formar profissionais e fomentar pesquisas na área de educação em ciências.

Outra possibilidade de carreira para os físicos é em institutos de pesquisa no exterior. Urbano explica que a física é um curso universal, ensinada do mesmo jeito em todos os países. "Todos os anos temos notícias de alunos e ex-alunos que estão desenvolvendo trabalhos em algum lugar do mundo", conta.

'PUXADO'
Aluno do primeiro ano de física da UEL, Lucas Queiroz, 19 anos, está bem satisfeito com a quantidade de cálculos que o curso exige. Assim que terminou o ensino médio, ele chegou a cursar engenharia elétrica, mas achou que a graduação tinha "poucas contas e muita burocracia", assim decidiu buscar outra opção. A mudança, porém, não foi bem aceita por todos. "Recebi muitas críticas, as pessoas me chamam de maluco, mas eu nem ligo", diverte-se.

O estudante garante que não sente muita dificuldade nos estudos, apesar de considerar o curso "puxado". "Tenho conseguido manter a média acima de sete", conta ele, que escolheu o bacharelado e já planeja se dedicar à iniciação científica em 2018. "Quero ser pesquisador e professor universitário", avisa.

Joel Soares de Alvarenga Junior, 19, está no terceiro ano de UEL e conta que também pensou em estudar engenharia elétrica na época que prestou vestibular, mas se encantou com as aulas de um novo professor de física do colégio e passou a ver o curso com novos olhos. Ao participar da Semana de Física na UEL e de um evento do PET (Programa de Educação Tutorial) realizado por alunos da graduação, ele conheceu todas as áreas em que um físico pode trabalhar e tomou a decisão. Hoje, ele próprio integra o PET e dedica-se a divulgar a física para outros estudantes.

O curso, segundo ele, exige persistência e dedicação. "É mais difícil do que imaginei, mas estou conseguindo", comemora ele, que passa quase todo o tempo na UEL, entre os estudos e as atividades no programa. "É interessante porque ganhamos uma bolsa para desenvolver as atividades. Como o curso é integral, fica difícil trabalhar", analisa o estudante, que além de fazer visitas às escolas para apresentar o curso, realiza atividades com as crianças abrigadas no Nuselon. "Fazemos atividades de iniciação científica com foco em entretenimento, para tirá-los da rotina", diz.