Londrina - Os números do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen-PR) sobre a procedência dos presos no sistema prisional são estarrecedores. Entre 2003 e 2007, o percentual de detentos residentes em zonas rurais explodiu, passando de pouco menos de 10% para mais de 42%. Ou seja: quatro em cada dez homens encarcerados nas prisões do Estado nos últimos cinco anos não eram oriundos das cidades. Quem trabalha com presidiários ou no combate à criminalidade alertou que a questão tem relação com o desemprego e com o alastramento incontrolável do tráfico e uso de drogas que leva, consequentemente, ao aumento da violência em pequenos municípios.
Conforme as estatíticas do Depen, em 2003, 722 (9,6%) dos 7.525 presos nos estabelecimentos penais tinham vindo da zona rural. Em 2004, houve um crescimento quase insignificante: apenas 793 (9,8%) dentre 8.058 presos. No ano seguinte, o aumento foi mais relevante e o percentual de presos de zona rural atingiu pela primeira vez os dois dígitos: 1.133 (13,5%) de um total de 8.406 presos. Em 2006, a população de presos de áreas rurais mais que dobrou, somando 2.718 (28,8%) entre 9.431 no geral. Em 2007, outro crescimento assustador. Do total de 11.209 presos, 4.740 (42,3%) tinham saído da zona rural. No Paraná, quase 85% da população de 10.285 milhões de pessoas vivem nas cidades.
Mesmo diante desse cenário aterrador, o Depen e sua instância superiora, a Secretaria de Estado de Justiça, ignoraram os pedidos de entrevistas feitos durante as três últimas semanas. Não indicaram ninguém para analisar os números, não apontaram o que está sendo feito para atacar o problema nem atualizaram os dados. As dificuldades para checar a tendência junto às prisões não foram menores.
Apenas a Casa de Custódia de Londrina (CCL) deu publicidade de seus atos. A direção da unidade relatou que, dos 343 encarcerados em fevereiro deste ano, 37 são da zona rural. Em Maringá, por exemplo, o Centro de Detenção Provisória (CDP) admitiu não dispor desse tipo de controle enquanto a Penitenciária Estadual (PEM) alegou que só informaria com autorização do Depen, mesma resposta dada por outras unidades procuradas.
Atuando há mais de duas décadas dentro de presídios, o coordenador da Pastoral Carcerária Nacional para a Macro Região Sul, Miguel Alcides Feldens, disse que o percentual crescente de presos de áreas rurais relaciona-se com as fileiras de agricultores que deixam o campo em busca de trabalho nos centros urbanos. ''Quando perdem o emprego, em geral já têm família, não conseguem sobreviver e partem para assaltar, roubar, traficar'', comentou. Segundo ele, a situação dos ''presos rurais'' é ainda pior do que a dos demais porque, em geral, são mais carentes. ''Mais de 90% são pobres mesmo'', afirmou.
O delegado-adjunto da 10 Subdivisão Policial em Londrina, Nélson Águila, recordou que há cerca de 20 anos a cidade sentiu os efeitos do êxodo rural quando surgiram os primeiros conjuntos habitacionais. Hoje, continuou, este fenômeno acomete mais cidades menores, cuja economia segue o ritmo das safras agrícolas: quando há recursos girando e oferta de emprego, a criminalidade diminui; na entressafra o desemprego aumenta, a renda cai e os crimes aumentam.
Águila incluiu também a interferência nefasta do consumo de drogas lícitas - álcool - e ilícitas - principalmente o crack. ''É espantoso como a droga está presente em tudo quanto é lugar. E o problema é mais grave porque o crack é muito barato e causa dependência mais intensa'', concluiu.
Como medida urgente, o coordenador da Pastoral Carcerária defendeu o incremento de investimentos em educação e qualificação profissional. Outra arma, cobrou Feldens, é o controle de natalidade. ''O planejamento familiar é uma questão fundamental'', opinou. Por fim, ele criticou que também é grave a falta de defensoria pública em muitas regiões.