Um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia e Rede Goiana de Pesquisa em Mastologia aponta que no Paraná foram realizadas 187.156 mamografias em mulheres entre 50 e 69 anos, o que equivale a 29% (2015), um índice bem abaixo do preconizado pela OMS (Organização Mundial de Saúde), que estabelece 70%. O levantamento anterior, de 2013, apontava que esse número estava em 195.928, uma cobertura de 32,6%.

De acordo com o presidente da regional paranaense da Sociedade Brasileira Mastologia, Helio Rubens de Oliveira, embora o índice esteja aquém do que a OMS recomenda, dentro do contexto brasileiro o estado é o 5º melhor em realização de exames.

Oliveira aponta que um dos fatores para a baixa procura é a desinformação da população. "Aí reside a importância do Outubro Rosa. A conscientização da prevenção vai aumentar a adesão das pessoas a realizar esses exames. Por desinformação, as pessoas têm medo, achando que o exame causa dores ou males à saúde", aponta.

Segundo a SBM, o baixo número de exames de rastreamento também pode ser atribuído a alguns fatores como dificuldade para marcar a consulta e solicitar o pedido médico, carência de profissionais e mamógrafos parados por estarem danificados ou descalibrados. "Há outro gargalo. Pacientes que conseguem realizar o exame, mas não têm acesso a exames complementares quando há necessidade de aprofundar a investigação", destaca. Ele explica que essas pessoas não fazem biópsia e não têm acesso a uma consulta com um especialista. "Isso acontece por dificuldade de acesso. O número de mamógrafos está aquém do necessário ou os equipamentos está subutilizado. Faltam profissionais capacitados para realizar exames e isso gera filas grandes."

Ele expõe que existem 4,2 mil mamógrafos no Brasil. "Esse número seria suficiente para atender a população, mas o problema é a distribuição, já que os equipamentos ficam concentrados nas grandes cidades. Muitas cidades do interior não têm equipamento e encaminham pacientes para grandes centros. Quando isso ocorre os pacientes acabam não fazendo exame por dificuldades de locomoção, ou pela dificuldade de sair de sua cidade. Como o agendamento é centralizados em algumas poucas cidades, a fila fica longa", aponta.


Para o especialista, a solução para tentar reduzir problema é o empoderamento da população com informação. "Ela tem que saber que a mamografia é o exame que salva vidas porque é o que consegue fazer o diagnóstico precoce do câncer de mama e é quando tem chance maior de ser curado. A Sociedade Brasileira de Mastologia orienta que se faça anualmente exame a partir dos 40 anos e relembra que há uma lei federal que garante que todas as mulheres acima dessa idade têm o direito de fazer mamografia", aponta.

A Sociedade Brasileira de Mastologia defende um tratamento digno e rápido para mulheres com queixas mamárias e, de uma forma muito especial, para aquelas que têm suspeita ou diagnóstico de câncer e que sofrem nas filas ou por falta de acesso. Também defende o rastreamento para todas as mulheres, com serviço próprio para mamografias, biópsia e diagnóstico, além de um corpo clínico de profissionais específicos para trabalhar com mama. Somente desta forma será possível reduzir o número de casos avançados e da mortalidade.

Imagem ilustrativa da imagem PREVENÇÃO - Procura por mamografia é baixa



'É preciso pensar em estratégias'
A chefe da seção de atenção primária da saúde da 17ª Regional de Saúde de Londrina, Néria Lanziane Janeiro Egger, destaca que a campanha Outubro Rosa já está estabelecida. "A gente vê que está todo mundo mobilizado, mas ainda têm muitos casos detectados tardiamente", aponta, destacando que a preocupação é com as mulheres que não têm o hábito de realizar os exames rotineiramente.

A estratégia será rastrear essas pessoas por faixa etária. "Estamos buscando essas pessoas por meio dos ACS (agentes comunitários de saúde). Eles irão nas casas para identificar se as mulheres já fizeram os exames e a partir disso será agendada uma conversa com a enfermeira da unidade básica de saúde e buscar esse cuidado", destaca.

Uma das estratégias para melhorar a quantidade de pessoas que realizam os exames, segundo ela, seria que as unidades de saúde trabalhassem com horários alternativos, principalmente no exame preventivo de colo de útero. "Muita gente trabalha nos horários de funcionamento das UBS (unidades básicas de saúde) e não tem oportunidade de realizar os exames a não ser que se façam campanhas no sábado. É preciso estender o horário para oportunizar o atendimento a esse público. Outra estratégia é ir para empresas e realizar esses exames lá. É preciso pensar em estratégias diferentes para atingir esse público. O câncer de colo de útero é uma coisa simples de detectar e tratar", aponta.

Segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM–Sesa), nos últimos três anos foram quase 300 mortes por câncer de mama e aproximadamente 80 mortes por câncer de colo uterino nos últimos 3 anos na área de abrangência da 17ª Regional de Saúde. Desse total, Londrina foi responsável por 165 mortes por câncer de mama e 50 óbitos por câncer do colo uterino. (V.O.)