Londrina - "Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo", já dizia uma letra de Walter Franco composta na década de 70. Além de modelar o corpo, o yoga (que em sânscrito significa união) - filosofia de vida que se originou na Índia há mais de cinco mil anos - aquieta a mente e afina o espírito.
Na era do culto ao corpo, os ásanas (posições físicas) e os pránáyámas (exercícios respiratórios) vão muito além da vaidade - além de trabalhar músculos e articulações, massageiam órgãos internos e glândulas, ensinam a respirar melhor, e induzem a um profundo relaxamento, tranquilidade mental, concentração, bons hábitos e autoconhecimento. "O yoga atua sobre o físico, promovendo leveza, flexibilidade e força; o mental, proporcionando calma e clareza; e o espiritual, desobstruindo os chakras (pontos de energia)", resume o instrutor de yoga Deo Ortiz.
Embora, no Ocidente, o yoga seja muito procurado por suas funções terapêuticas, costuma-se enfatizar que os efeitos para a saúde são apenas consequências secundárias de algo muito maior, meta de qualquer tipo de yoga - atingir o autoconhecimento. Segundo o livro "Tudo o que você sempre quis saber sobre yoga e jamais teve a intenção de perguntar", do mestre DeRose, fundador da Universidade de yoga, as finalidades terapêuticas não fazem parte da proposta original do yoga Pré-Clássico (o mais antigo), surgindo apenas na Idade Média, cerca de quatro mil anos após a origem dessa filosofia.
"No yoga vale mais a intenção do que a prática. O praticante procura atender as suas necessidades cotidianas e a evolução dependerá do interesse, disciplina e constância de cada um", assinala o instrutor de SwáSthya yoga, Hudson Mazeto.
Independentemente de se buscar o yoga ou apenas seus benefícios físicos, é certo que a prática traz qualidade de vida. Ortiz explica que as posturas de flexão à frente possuem efeito calmante sobre o sistema nervoso, sendo indicada para hipertensos e cardíacos. Elas também fortalecem as funções dos rins e suprarrenais, trabalhando medos, traumas, ajudando a pessoa a adquirir mais segurança. Já as posturas de flexão atrás alongam a parte abdominal, estimulam a respiração mais profunda, ativam a tireóide e paratireóide e aumentam a flexibilidade da coluna, local de grande circulação de energia. "O alongamento dos peitoriais, proporcionado por esses exercícios, auxilia a trazer as emoções à tona", acrescenta Mazeto.
As torções são consideradas posturas completas. Auxiliam no alinhamento da coluna, atuam sobre o sistema nervoso autônomo e possuem efeito calmante e energizante, beneficiando todos os chakras. De acordo com Ortiz, as posturas em pé restauram a simetria do corpo, alongam pernas e coluna e equilibram os hemisférios cerebrais da razão e emoção. Os ásanas que trabalham o equilíbrio proporcionam força, serenidade e concentração. "É o tipo de postura que nos auxilia a confrontar nossas limitações, reforçando o poder de superação", afirma o instrutor.
As posturas invertidas auxiliam no combate à fadiga, insônia, enxaqueca, dores de cabeça e varizes. Ficar de cabeça para baixo hiperirriga os vasos sanguíneos auxiliando no rejuvenescimento, além de proporcionar descanso ao coração. O corpo também se prepara para situações adversas, como tensão e estresse. "Ver o mundo literalmente de ponta cabeça nos ajuda a rever o mundo, os nossos pontos de vista", argumenta Mazeto.
Deo Ortiz complementa que as posturas invertidas ativam o sexto e sétimo chackras (frontal - terceiro olho e da coroa), onde se localiza a glândula pineal. Situada próxima ao centro do cérebro, ela equilibra os centros considerados vitais, especialmente o do sono, e na regulação dos esforços sexuais e reprodutivos. Para os indianos, dependendo do grau de desenvolvimento, a glândula ativa os estados supremos da consciência.
Os ásanas desviam a atenção dos pensamentos para o corpo, aquietando a mente. Com a mente calma, livre do turbilhão que costuma nos tomar de assalto, a respiração sob controle (realizada sempre pelas narinas, de forma ampla e consciente), a tendência é a auto-observação, a concentração, autoconhecimento e, no fim das contas, a transcendência.
"Nas práticas avançadas o yogin (praticante de yoga) trabalha técnicas de meditação e mudrás (gestos reflexológicos feitos com as mãos) que o leva a conhecer níveis de consciência mais sutis, aos quais não estamos acostumados", afirma Mazeto. Os mantras, uma das partes da prática indiana, dinamizam os chakras, ajudando a obter o aquietamento das ondas mentais para conquistar uma boa concentração e meditação.