Segundo professor, pais devem se conscientizar sobre a importância da prática de atividade física no dia a dia da criança
Segundo professor, pais devem se conscientizar sobre a importância da prática de atividade física no dia a dia da criança | Foto: Gina Mardones



Comportamento sedentário, sobrepeso, obesidade e hipertensão arterial geralmente são problemas associados à vida adulta, decorrentes de anos de descuido com a alimentação e com a prática de atividade física. Mas hábitos alimentares inadequados e exercícios físicos em pouca quantidade têm feito aumentar o número de crianças e adolescentes obesos e com pressão arterial elevada. A comprovação foi feita em uma pesquisa conduzida pelo professor do Departamento de Estudos do Movimento Humano da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Gustavo Aires de Arruda, que acompanhou a rotina de mais de 200 adolescentes de duas escolas estaduais de Londrina durante três anos, de 2014 a 2016.
No estudo, foram observados o consumo de determinados tipos de alimentos e a frequência com que são ingeridos, regularidade na prática de atividade física, índice de massa corporal, níveis de pressão arterial, incidência de dores na coluna e desempenho escolar. Os resultados não chegam a ser surpreendentes, mas ainda assim são preocupantes. No início da pesquisa, em 2014, 67,2% dos adolescentes com 13 anos de idade que faziam parte do grupo avaliado não praticavam esportes ou exercícios físicos por um período maior ou igual a 150 minutos por semana. No final do trabalho, em 2016, os mesmos adolescentes adotaram um comportamento ainda mais sedentário e o percentual cresceu para 73,6%.
"Comparando o indivíduo que era ativo e o que não era ativo no início da adolescência, aqueles que eram mais ativos aos 13 anos tiveram três vezes mais chance de continuarem ativos aos 16 anos. Por isso os pais devem se conscientizar que a prática de atividade física no dia a dia da criança, seja o exercício físico ou o esporte, é importante e as políticas públicas devem colaborar na prevenção. Se não adotar esse hábito, dificilmente vai ser incorporado ao estilo de vida da criança", ressaltou Arruda.
O professor lembrou ainda que as aulas de educação física na escola, geralmente limitadas a duas vezes por semana com 50 minutos de duração cada, são insuficientes para combaterem o comportamento sedentário quando se considera que os alunos levam alguns minutos para se deslocarem até a quadra de esportes e mais alguns minutos para se organizarem para a prática de exercício. "Só aí o tempo de aula já diminuiu para 35 minutos e o período que ele passa se movimentando é ainda menor e não chega a 60 minutos por semana quando o adolescente deveria fazer, pelo menos, 60 minutos de atividade física por dia."
Arruda enumera várias barreiras para a prática de atividade física, como a falta de locais adequados, a insegurança, que leva os pais a proibirem as brincadeiras em ruas e praças, falta de tempo dos pais e dos filhos, muitas vezes envolvidos com outras atividades, e também a condição socioeconômica.
"Vários estudos demonstraram que a condição econômica é um fator que pode influenciar na prática de atividade física, assim como alimentação, mas vai depender da região do país da qual estamos falando e do país sobre o qual estamos falando. Essa influência nem sempre ocorre na mesma direção. Às vezes, o que tem menos condições financeiras se movimenta mais porque brinca na rua."

ALIMENTAÇÃO
No quesito alimentação, os adolescentes pesquisados também demonstraram cultivar hábitos pouco saudáveis. O consumo de doces elevado – acima de sete porções por semana – foi confirmado por 28% dos adolescentes, mas os refrigerantes e as frituras são os campeões na preferência, com 55% e 49%, respectivamente. Além disso, 26% dos adolescentes relataram consumir mais do que um copo de bebida alcoólica por semana.
Índices que podem estar relacionados à pressão arterial elevada, observada em 17,8% dos adolescentes, e do excesso de massa corporal, verificado em 39,8% dos participantes da pesquisa. "Quem tem excesso de massa corporal no início da adolescência tem 36 vezes mais chance de ter excesso ao final da adolescência se comparado com o indivíduo que estava saudável no início da pesquisa. E vale ressaltar que a proporção de adultos obesos que conseguem voltar a uma condição saudável de massa corporal é menor que 1%", destacou o professor. E nos estudos com os adolescentes, ele constatou que cerca de 10% daqueles que estavam com sobrepeso no início da pesquisa conseguiram atingir uma condição saudável no final do estudo.
Sobre os níveis de pressão arterial elevados, Arruda alertou para os perigos de pessoas tão jovens já apresentarem hipertensão, considerando que essa é uma das doenças que mais matam pessoas no mundo atualmente. "O esperado seria até 5%", disse ele. (Leia mais na pág.2)