Uma parte da Serra Geral do Paraná, próxima ao Norte do Estado, foi batizada com o nome de Serra do Cadeado e se tornou conhecida por ser um trecho de curvas perigosas na Rodovia do Café e pelo excesso de neblina no local em algumas épocas do ano. Mas seria mera coincidência a serra ter o mesmo nome do objeto usado para fechar portas, porteiras ou portões? O que pouca gente sabe é que a origem do nome da serra está associada, de certa forma, à uma espécie de ''pedágio'' que se cobrava na época, bem antes da existência da rodovia que liga as regiões Norte e Sul do Estado.
Desde o período da colonização, os tropeiros vindos do Sul cortavam o território paranaense para levar mercadorias às províncias de São Paulo e Minas Gerais, o que originou inúmeras cidades em todo o percurso. Dependendo do destino, a única alternativa dos tropeiros era usar a Estrada Boiadeira que cortava a Serra Geral, no segundo planalto paranaense.
Na primeira metade do século passado, o proprietário rural Sadi de Brito assumiu a administração de uma extensa área de terras que compreende parte dos municípios de Marilândia do Sul, Faxinal e Ortigueira. Brito repassava pequenos lotes para as famílias interessadas em ocupar e trabalhar a terra, em especial para plantar milho e criar porcos.
Para disciplinar o trânsito de pessoas no local e saber quem trabalhava na propriedade ou quem estava apenas de passagem, Sadi de Brito decidiu colocar uma porteira com um cadeado na estrada que ficava a poucos metros da sede da fazenda. Um funcionário cuidava o tempo todo da porteira, controlando quem entrava e quem saía. A partir daí, os tropeiros passaram a identificar este trecho como a ''serra da porteira do cadeado'', que acabou sendo reduzido para Serra do Cadeado.
Assim como hoje a ligação entre o Norte e o Sul é feita pela Rodovia do Café, também naquela época não havia outra alternativa a não ser o carreador onde ficava a tal porteira. Brito adotou ainda uma prática com o nome de ''foro'' para receber sua parte pela exploração das terras que administrava. Foro, segundo o dicionário, significa ''taxa de ocupação ou saída de um local cercado.''
Para cada alqueire plantado, ele deveria receber dois balaios com milho. A cobrança era feita exatamente no momento em que o posseiro precisava deixar a propriedade para comercializar o produto. E segundo consta, Sadi de Brito não cobrava nenhuma taxa dos tropeiros que apenas passavam pela estrada.
O atual proprietário da área onde ficava a porteira é o advogado Júlio César Christóffoli. Segundo ele, a porteira teve dois cadeados em momentos distintos. O advogado conta que não se tem notícia do primeiro cadeado, mas o segundo foi localizado pelo tratorista que fazia uma escavação no local onde ficava a porteira. O funcionário encontrou o cadeado junto a uma corrente amarrada ao tronco que fixava a porteira. Christóffoli fez uma limpeza geral para dessenferrujá-lo e mandou fazer uma chave para o utensílio, que hoje guarda como uma verdadeira relíquia.