O biólogo Moacyr Medri observa que o pau-brasil da Praça da Bandeira precisa de cuidados
O biólogo Moacyr Medri observa que o pau-brasil da Praça da Bandeira precisa de cuidados | Foto: Fotos: Anderson Coelho



Os livros de história registram que o nosso país chama-se Brasil por causa de uma árvore, encontrada em abundância quando os portugueses chegaram por aqui, em 1500. Os índios daquele tempo chamavam-na de "ibirapitanga", os biólogos de hoje usam o nome científico Caesalpinia echinata Lam, mas os europeus já a conheciam de longa data com os nomes de "kerka de bersil", "brezil" e "brasil", em referência à cor de brasa, um vermelho intenso, da madeira da árvore. No livro "Brasil: Uma Biografia" (Companhia das Letras, 2015), as autoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling contam que, no século 11, foi registrado pela primeira vez o desembarque de uma "kerka de bersil" na França.

Além da madeira, dela se extraía um corante vermelho, de bom valor comercial. Por isso, achando o que chamaram de pau-brasil em abundância no litoral brasileiro, os portugueses deram à colônia o nome derivado da árvore. E trataram de explorá-la intensamente. Estima-se que existiam, no começo do século 16, 70 milhões de espécimes na mata atlântica brasileira. Por muito pouco não ocorreu a extinção.

Provavelmente considerando todos esses aspectos históricos, o poder público resolveu plantar, há décadas, exemplares de pau-brasil na Praça Marechal Floriano Peixoto, ou Praça da Bandeira, que fica entre a Catedral e o Calçadão, no Centro de Londrina. Várias gerações de professoras londrinenses promoveram visitas às plantas para ilustrar as aulas de História do Brasil.

Há dois exemplares dessas árvores por ali que ganharam placas de identificação da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema). Uma delas vai bem (a árvore, não a placa, que está enferrujada). Porém, o pau-brasil que está na parte mais movimentada da praça vai mal. Tem vários ferimentos no tronco. Em um deles, bem na base da árvore, um gambá chegou a se instalar há alguns meses, usando o local como toca, segundo ambulantes que trabalham por ali.

Convidado pela FOLHA para avaliar as árvores desta reportagem, o biólogo e doutor em botânica e professor aposentado da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Moacyr Medri observou que o pau-brasil da Praça da Bandeira está precisando de cuidados.

Segundo ele, é necessário fazer um tratamento com antifúngicos e bactericidas nos ferimentos da árvore e depois vedá-los com um produto específico para isso. "Em torno de 90% do tronco de uma árvore, naturalmente, já é morto. A madeira, que chamamos de xilema, é formada por células mortas. Somente a parte mais externa do tronco é viva. E quando ela também começa a morrer, coloca a planta toda em risco", explica Medri.

A gerente de áreas verdes da Secretaria Municipal do Ambiente (Sema), Alexsandra Siqueira, enviou um técnico para avaliar a árvore. Segundo ela, o tratamento recomendado será feito e são boas as chances de futuras gerações poderem ver de perto a brava planta que deu nome para o País.

O fato alegra a vendedora Eucelina Vieira de Oliveira, que comercializa salgados e cafezinhos à sombra do pau-brasil. "Ele está doente e espero que sobreviva. Seria muito triste vê-lo morrer."

A figueira em quase nada lembra a árvore que foi um símbolo para a zona leste
A figueira em quase nada lembra a árvore que foi um símbolo para a zona leste



Figueira da Robert Koch está morrendo
Em março de 2014, a FOLHA publicou uma matéria desfazendo um engano que muitos nutriram durante anos. A grande árvore que está no canteiro central da Avenida Robert Koch (zona leste), dezenas de metros depois do Hospital Universitário para quem vai no sentido centro-bairro, não é uma seringueira. É uma figueira, exótica, originária da Ásia, Ficus elástica Rosb. para os biólogos.

Há três anos, o texto destacava, sem exageros, a exuberância da árvore, de mais de 20 metros de altura e uma copa de 35 metros de comprimento. E também contava que ela foi plantada em 1952, pelo senhor Olívio Gaion, quando a cidade ainda não havia chegado até ali. O próprio Gaion contou a história para o repórter.

Hoje, a figueira da Robert Koch em quase nada lembra a árvore que foi um símbolo para a zona leste de Londrina. Depois que um dos seus galhos caiu, em setembro de 2016, ferindo um casal que passava de triciclo motorizado pela avenida, uma poda radical foi feita para evitar novos acidentes. "Ela está morrendo, em estado de senescência, ou seja, senil, em sua fase final de vida", decreta o biólogo Moacyr Medri.

Técnicos da Sema já haviam detectado a senescência da árvore e ela tem previsão de ser cortada. Porém, como ainda está viva e não oferece riscos, a erradicação não deve acontecer tão rapidamente. (W.S.)

Árvore na Souza Naves: copa vigorosa e uma grande ferida no tronco
Árvore na Souza Naves: copa vigorosa e uma grande ferida no tronco



Flamboyant está vistoso, mas será erradicado
Na confluência da Avenida Souza Naves com a Rua Clóvis Beviláqua, próximo ao Monumento à Bíblia (zona sul), há um flamboyant lindo, ainda florido neste início de outono. De tão imponente a copa da árvore, de longe quase não se vê o tronco. "Mas quem vê copa não vê tronco", diz o biólogo Moacyr Medri. E ele tem razão. Como o trânsito de automóveis é intenso e voraz no local e a árvore está no meio de um canteiro, poucos usufruem da vasta sombra ou chegam perto para ver que ela precisa de socorro.

Com olhar apurado, o repórter fotográfico Anderson Coelho comparou a grande ferida que há no tronco do flamboyant a um coração humano exposto em um peito aberto. "Esta ferida é decorrente de um galho que caiu. Com isso, outro galho muito pesado vai acabar caindo também, por causa desse ferimento. E vai cair na rua, a qualquer momento, podendo até atingir alguém", alertou Medri.

Na opinião dele, é possível fazer um bom tratamento para estancar os cupins, que atacaram a árvore em cheio, tratar a parte ferida e fechá-la com massa própria para madeira. "A copa está vigorosa, indicando que ela está com potencial fotossintético alto. Uma planta dessa tem um metabolismo bem intenso", explica.

Para se ter uma ideia, um decímetro quadrado de uma folha de pau-brasil tira do ar de 15 a 20 miligramas por hora de gás carbônico. No flamboyant, o mesmo decímetro quadrado de folha tira de 24 a 26 miligramas de gás carbônico por hora. Dá boa sombra, é bonita e purifica o ar. É por isso que essa árvore, de nome científico Delonix regia Raf. e originária da Ilha de Madagascar, na África, espalhou-se pelo mundo inteiro e chegou ao Brasil.

Contudo, depois de ser avisada pela FOLHA do grande ferimento e da infestação de cupins na árvore, a Sema também enviou um técnico para avaliá-la. E a conclusão acabou não sendo boa. Ela terá que ser erradicada. Segundo a gerente de áreas verdes Alexsandra Siqueira, o corte ocorrerá nos próximos dias. A cidade perderá um ponto de referência. (W.S.)