O ato aparentemente simples de caminhar pelas calçadas pode se tornar um desafio quando sobram irregularidades e pisos deteriorados. Buracos, pedras soltas, degraus, desníveis, raízes de árvores expostas, entulho, tem de tudo no meio do caminho dos pedestres. Para os que possuem algum tipo de deficiência, tantos obstáculos se tornam verdadeiras armadilhas.
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul) estima que 230 mil deslocamentos sejam feitos a pé no município diariamente. Destes, 15% apresentam algum tipo de dificuldade de locomoção, seja visual ou motora, além dos idosos e gestantes. Diante dos inúmeros empecilhos, a falta de acessibilidade acaba vedando o direito do cidadão de caminhar com conforto e segurança, previsto em lei.
O projeto das calçadas é de responsabilidade do poder público, contudo, os proprietários são responsáveis pela construção e manutenção do trecho em frente ao imóvel. E, apesar do Código de Postura do Município conter resoluções que determinam que os proprietários façam a manutenção das calçadas, ainda não existe uma fiscalização efetiva.
Segundo a coordenadora pedagógica do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (Ilitc), Ivone Rocha Galdino, a falta de fiscalização resulta na ausência de padronização. ''Cada um faz da maneira que bem entende, como 'acha mais bonito'. Há uma descontinuidade e ninguém se preocupa com a metragem exigida e, por consequência, com a lei de acessibilidade. Por não haver uma fiscalização, a manutenção não é adequada e, dessa forma, o abandono se tornou comum.''
Ela diz que os vários obstáculos atrapalham não somente quem tem problemas de visão, mas a todos que tenham algum tipo de dificuldade de locomoção, como cadeirantes, idosos e gestantes.
Ivone declara que o município já teve grandes evoluções, mas é necessário ainda mais. Segundo ela, a população deveria se conscientizar no momento de uma construção. ''Não custa fazer uma calçada com as medidas corretas. Não há qualquer tipo de nivelamento; enfeites são colocados em árvores. São tantos detalhes ignorados, que o piso tátil acaba sendo secundário. O pior problema é a descontinuidade e a má conservação.''

Para todos
Em 2004 o Ippul lançou o projeto ''Calçada para Todos'', prevendo que em novas construções no quadrilátero central da cidade haja a inclusão da faixa de piso tátil. Até o momento 500 calçadas já foram adaptadas, entretanto, a descontinuidade ainda é presente.
''Não podemos obrigar que donos de estabelecimentos mais antigos destruam suas calçadas para a construção de uma nova, dentro dos padrões. Nas novas edificações, nossos técnicos podem orientar como deve ser o padrão compatível com a Norma Brasileira de Acessibilidade. Mas infelizmente, nosso corpo de fiscalização é menor do que há 30 anos'', explica a gerente de trânsito do órgão, Cristiane Biazzono Dutra.