Mãos juntas, enrugadas. Mãos que a muitos abençoou e acolheu. Rosto sereno, mas marcado pelos sinais do tempo. Vestido sacerdotalmente. Em sua cabeça, o solideo, uma tradição católica que marca a autoridade episcopal. Nos corredores da catedral Nossa Senhora de Lourdes, milhares de fiéis. Homens e mulheres de fé que se encontram pela última vez com o bispo emérito da diocese de Apucarana (Norte), dom Domingos Gabriel Wisniewski, conhecido por todos como o ''bispo do sorriso''.
O religioso morreu na madrugada de ontem, no Hospital do Câncer de Londrina. Aos 82 anos, ele lutava para restabelecer a saúde após passar por uma cirurgia para correção de problemas intestinais. Ficou muito debilitado, entrando em coma e sofrendo uma parada cardíaca, a causa do óbito.
O velório acontece desde ontem, na catedral de Apucarana, onde, de hora em hora, os padres e fiéis da diocese se revezam em celebrações da missa e oração do terço. A celebração das exéquias será hoje, às 10 horas, presidida por dom Celso Marchiori, bispo diocesano de Apucarana, e terá pregação de dom Pedro Fedalto, bispo emérito de Curitiba. Bispos de várias dioceses do Paraná confirmaram presença na celebração. O sepultamento será após a missa, em uma cripta abaixo do altar principal da catedral.
Dom Celso Marchiori, em entrevista à FOLHA, lembrou que dom Domingos era amigo de sua família e que por diversas vezes o felicitou por ter sido nomeado bispo da Diocese de Apucarana. ''Com seu sorriso costumeiro, sua bondade nas palavras e no acolhimento, ele me encorajou em minha missão. Eu costumava dizer que ele era meu companheiro de viagem. Íamos juntos a todos os compromissos da província eclesiástica de Londrina e em algumas celebrações da diocese. Aprendi muito com ele.''
O lema episcopal de dom Domingos, citação bíblica que orienta a missão do religioso, era retirada da carta do apóstolo Paulo aos Colossenses, (capítulo nove, versículo 22), que diz: ''tudo para todos''. Dom Celso explica a frase dizendo que seu antecessor era um homem aberto ao diálogo e que não fazia acepção de pessoas. ''Ele acolhia a todos, conversava com todos e tudo o que possuía era para todos. Era um homem desprendido, de coração aberto.''
Para o monsenhor Roberto Carrara, pároco da catedral, o exemplo de vida deixado pelo bispo é uma lição para a cidade de Apucarana e de toda a diocese. ''Ele era muito querido por todos. Sabia falar com as pessoas. Era simpático sem precisar se esforçar.''
O padre José Roberto Rezende, do Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima, trabalhou diretamente com dom Domingos e diz que guardará na lembrança o equilíbrio e a disponibilidade do bispo. ''Ele nunca delegava suas tarefas para ninguém. Fazia questão de marcar presença em todas as reuniões, crismas e celebrações.''
Maria Aparecida de Souza, moradora há 40 anos de Apucarana, era amiga de dom Domingos e afirma se sentir órfã com sua morte. ''Ele ia à casa da gente. Tomava café com nossa família. Era um homem tão simples, de tanta fé. Transmitia esperança com seu olhar. Hoje é um dia triste para nossa igreja.''
A Prefeitura de Apucarana decretou luto oficial de três dias.
Uma jornada de fé
Dom Domingos Gabriel Wisniewski era brasileiro, filho de poloneses. Realizou sua formação teológica na França. Foi reitor do seminário Vicentino em Curitiba e depois ordenado bispo auxiliar da diocese, em 1975. Em 1979 foi nomeado bispo da diocese de Cornélio Procópio. No ano de 1983 foi transferido para Apucarana, tomando posse como segundo bispo da diocese. Em 2005, pediu renúncia do cargo e foi nomeado bispo emérito, onde viveu seus últimos dias, colaborando com Dom Celso Marchiori nas atividades episcopais.