Imagine a cena. Um grupo de acordeon, formado principalmente por mulheres, em um canteiro de obras. O público, funcionários de uma construtora de Londrina, que trabalham em um empreendimento na região central. O resultado foi uma animada festa na hora do almoço, com direito até a dança. A estrutura de concreto ganhou novos sons e a diversão ficou garantida.
Essa é uma das propostas do 33º Festival de Música de Londrina (FML), que assim como o slogan de "Festival de todas as músicas", também se faz presente em todos os cantos da cidade. Durante os 15 dias de programação, muitos londrinenses têm a oportunidade de vivenciar a música nos mais diferentes ambientes, como hospitais, praças, ônibus e canteiro de obras.
"Queremos oportunizar os trabalhadores que muitas vezes não têm acesso a uma apresentação em teatro. O festival transforma a cidade se tornando uma grande faculdade de música e o objetivo é levar um pouco ao encontro da comunidade. Temos grupos que se apresentam em vários espaços durante o festival e a receptividade é sempre muito boa", explica a coordenadora geral do FML, Lilian de Almeida.
Nesta edição, os operários da Plaenge contaram com a presença do grupo de Londrina, que tocou músicas populares de raiz. A ação é resultado de uma parceria entre o Festival e a construtora, patrocinadora do evento há sete anos. "Acho que uma apresentação dessa faz diferença no trabalho deles. A música faz parte do dia a dia deles na obra, seja através de aparelhos celulares ou até mesmo aqueles que gostam de cantar durante o expediente. É um momento de descontração e alegria", observa o engenheiro civil da Plaenge, Silvio Nunes.
A apresentação durou cerca de 40 minutos e foi prestigiada por cerca de 90 funcionários, quase 90% da mão de obra do local. Tem quem preferiu apreciar o momento sentado e aqueles que não abriram mão de arrastar o pé.
"É ótimo porque baixa o nível de estresse e une mais os funcionários. O dia a dia é tão corrido que às vezes a gente não se conhece direito, mas agora, é uma oportunidade até de descobrir afinidades, como, por exemplo, o gosto pela dança. O único 'problema' é que na volta ao trabalho vou ter que dispersar as rodas de conversa, pois é um evento que vira atração na obra", conta o mestre de obras Claudenir Cuenca.

Agenda
As azulejistas Marli Pereira de Matos Ribeiro e Maria Neide Ferreira são da mesma família e trabalham na construção civil há pouco mais de dois anos. Depois da apresentação, elas garantiram que estavam até mais empolgadas para voltar a trabalhar. "É uma distração para nós. Acho que tinha que acontecer mais vezes", comenta Maria, que não dispensou os passos de dança.
Com um repertório rico em músicas populares de raiz, o Grupo Evelina Grandis se orgulhou em ver a animação do público. "A música é universal e por isso é bem aceita em qualquer lugar", ressalta a acordeonista Marlene Lopes Nunes, de 62 anos.
O grupo foi fundado em 1951 pela paulista Evelina Grandis, percussora do acordeon em Londrina. Sua filha Sônia Grandis Lepri, hoje com 68 anos, aprendeu a tocar o instrumento ainda pequena, com o incentivo da mãe. Em 2002, as alunas de Evelina se reuniram informalmente para tocar em uma ocasião e desde então, não parou mais. Os oito integrantes – a maioria de mulheres - têm aulas uma vez por semana e ainda cumprem uma agenda de apresentações.
"Elas tocam muito bem. Sou baiano e você sabe que nosso povo gosta de uma boa música, não é?", brinca o funcionário Otávio Ribas de Almeida, de 70 anos. Ele deixou sua terra natal Jequié, na Bahia, há muitos anos, mas ontem de manhã, teve o gostinho de relembrar algumas canções do Nordeste. "É muito gostoso. Valeu a pena", conclui.
No próximo dia 20, um canteiro de obra da construtora, em Maringá, receberá a visita da tradicional Big Band Plaenge, sob a regência do maestro Vitor Gorni. Este evento também faz parte da programação do festival. (Leia mais sobre o FML no Folha2)