Um novo teste desenvolvido por um laboratório brasileiro é capaz de detectar se o HPV, vírus causador do câncer de colo de útero, está ativo no organismo da mulher infectada, condição que aumenta as chances da ocorrência de tumores.

Hoje, os exames existentes analisam se a mulher já tem lesões iniciais que lentamente podem transformar-se em um câncer - caso do papanicolau - ou se, mesmo quando este tem resultado normal, o material genético do vírus está presente na região genital - situação verificada pelos testes PCR e captura híbrida.

O que os exames mais utilizados hoje não são capazes de detectar é se o vírus, quando presente, está ativo ou adormecido. Isso porque, embora o HPV esteja relacionado com diversos tipos de câncer, a maioria das pessoas contaminadas por ele nunca desenvolverá a doença, pois as próprias células de defesa do corpo eliminarão o vírus antes que ele aja e cause um tumor.

Em uma pequena parcela de pacientes (10% a 20%), no entanto, o HPV não é eliminado espontaneamente. Nesses casos, ele consegue entrar nas células e bloquear os mecanismos de defesa que poderiam combatê-lo. O novo teste, apresentado há duas semanas no Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, consegue verificar se o vírus já iniciou a ação de bloqueio do sistema de defesa, indicando, assim, se há maior chance de ocorrência de alguns tipos de câncer.

"Quando há essa transformação nas células, detectamos duas proteínas, a p16 e a Ki67. O teste, que leva o nome dessas proteínas, verifica justamente se elas estão positivas", explica Adriana Bittencourt Campaner, gerente médica do Centro de Estudos e Pesquisas do Salomão Zoppi Diagnósticos, laboratório que desenvolveu o teste, e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Indicação

Adriana explica que o exame não é indicado para todas as pacientes com o vírus. "Ele não deve ser indicado indiscriminadamente. Será recomendado principalmente para pacientes diagnosticadas com lesão de baixo grau no papanicolau", explica a médica. Esse tipo de lesão é o mais brando na escala de alterações prévias à ocorrência de um câncer de colo de útero.

Não há tratamento para o vírus em si, por isso a importância de monitorar a infecção antes dela causar um tumor. "Não conseguimos matar o HPV, mas, se o teste acusar que ele está ativo, é possível fazer um acompanhamento mais próximo e frequente para tentar impedir que a lesão evolua", comenta Adriana. O exame, já feito em outros países e até então inédito no Brasil, é capaz de verificar a atividade de cerca de 40 tipos de HPV.

Alívio

Para a gerente S.S., de 35 anos, diagnosticada com HPV de alto risco há dois anos, o exame traz tranquilidade para quem já foi infectada. "Sei que a maioria das pessoas consegue combater o vírus espontaneamente, mas sempre bate um medo de, no meu caso, o vírus continuar no organismo e provocar algo mais grave. Seria um alívio saber que ele está adormecido ou, então, poder agir mais rapidamente caso ele esteja ativo", diz a paciente, que faz acompanhamento médico anual.