Imagem ilustrativa da imagem Narguile é foco de campanha contra o tabagismo
| Foto: Celso Pacheco
O educador físico Adair Santos visitou escolas estaduais em Londrina



As campanhas contra o tabagismo e a entrada em vigor de leis que proíbem o cigarro em ambientes públicos fechados têm surtido efeito e o número de fumantes no Brasil vem caindo ano a ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003, 20% dos brasileiros faziam uso do cigarro. Esse índice baixou para 16% em 2012 e, em 2016, reduziu ainda mais, para 12%. Mas enquanto o cigarro deixa, aos poucos, de fazer parte da rotina dos brasileiros, o narguile vem ganhando mais espaço, principalmente entre o público jovem.
De origem oriental, o narguile é uma espécie de cachimbo de água usado para fumar tabaco aromatizado e é visto como instrumento de socialização já que é usado em roda, dividido por um grupo de pessoas. Como não tem o cheiro dos cigarros comuns e produz uma fumaça branca, o narguile também é visto como menos prejudicial à saúde e é mais aceito socialmente. Pesquisa do Ministério da Saúde aponta que mais de 212 mil brasileiros admitem o uso do narguile e entre aqueles que afirmam usar o cachimbo diariamente, 63% têm entre 18 e 29 anos de idade.
Para conscientizar os adolescentes sobre o tabagismo e os malefícios que o hábito acarreta à saúde, integrantes dos núcleos de apoio a saúde da família (Nasfs) de Londrina estão visitando escolas estaduais de todas as regiões da cidade. O trabalho educativo começou em 15 de agosto e vai até o dia 29, quando se comemora o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Neste ano, o narguile está no foco da campanha desenvolvida no município.
Nesta quarta-feira (24), o Nasf que atua na Unidade Básica de Saúde do Jardim Piza (zona sul) esteve em um colégio da região. O educador físico do Nasf, Adair Santos, e a farmacêutica Renata Conselvan conversaram com alunos dos últimos anos do ensino fundamental e também do ensino médio e comprovaram, na prática, o que revelam as pesquisas do Ministério da Saúde. Durante a palestra, os adolescentes afirmaram não aprovar o uso do cigarro, mas demonstraram estar bastante familiarizados com o narguile.
"Não gosto de cigarro. Quando alguém fuma perto de mim, começo a espirrar. Tenho alergia. Mas comecei a fumar o narguile no ano passado, em uma festa na casa de uma amiga e gostei bastante. Estava de férias e todos os dias a gente usava. Hoje, uso só de vez em quando. Uso porque gosto, mas não acho que esteja viciada", contou uma adolescente de 14 anos. "Depois da palestra de hoje vou fumar com consciência do que estou fazendo, mas não pretendo parar porque todos os meus amigos fumam e eu gosto de fumar", acrescentou.
Outra aluna do colégio, de 13 anos, afirmou nunca ter experimentado cigarro, mas o narguile sim. "Me chamou a atenção as bolinhas que se formam na água e resolvi experimentar e gostei. O cheiro é maravilhoso. Hoje, fumo só de vez em quando. A minha mãe também já fumou. Ela sabe que eu fumo e não se incomoda. Cigarro é mais para adultos", disse. "Se você não experimentar, você é o careta da turma e ser o certinho, ultimamente, não é legal. Eu já fumei narguile, mas não fumo mais", disse um garoto de 13 anos. "Eu praticamente fui obrigado pelos meus amigos. Estava em uma roda e tive que experimentar, mas não gostei", relatou um adolescente de 14 anos.
De acordo com Santos, é muito comum entre os adolescentes e jovens a ideia de que é mais fácil parar de fumar o narguile do que abandonar o cigarro, mas ele ressalta que o cachimbo oriental contém as mesmas substâncias nocivas encontradas no cigarro e em quantidades até maiores. O narguile, destacou o educador físico, tem 14 vezes mais nicotina do que o cigarro e uma hora de exposição à fumaça do cachimbo, seja tragando ou apenas próximo a quem estiver fazendo uso dele, corresponde a 100 cigarros.
Durante a palestra, os profissionais do Nasf pediram aos estudantes que escrevessem em papeis separados suas impressões sobre o cigarro e sobre o narguile. O cigarro apareceu sempre associado a uma imagem negativa, como doenças e vício. Já o hábito de fumar o cachimbo oriental é visto entre os adolescentes como atitude de pessoas descoladas.
"A sociedade aceita porque o narguile tem essa imagem de ser menos prejudicial à saúde. As pessoas acreditam que a água filtra as substâncias nocivas. Ele tem sido aceito inclusive pelas famílias", disse Santos. "No rótulo das essências do narguile não aparecem as substâncias, mas é por falta de regulamentação, mas os componentes são tão nocivos quanto os presentes no cigarro", alertou Renata Conselvan. (Leia mais na pág.2)