O problema da criminalidade e a segurança pública em Londrina foram o assunto principal ontem de manhã, durante o I Congresso Brasileiro de Criminologia e Política Criminal. O congresso, realizado no Teatro Marista, termina hoje, e é organizado pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim).
O major da reserva Sérgio Dalbem abriu o painel perguntando às pessoas presentes se elas ou seus familiares já tinham sido vítimas de roubo ou furto. Cerca de 80% ergueram as mãos, número que surpreendeu até o próprio major. Ele lembrou que a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que haja pelo menos um policial para cada 250 pessoas. Porém, de acordo com informações repassadas por Dalbem durante a palestra, há hoje cerca de mil policiais militares para atender a Londrina, Cambé, Ibiporã e Tamarana, o que, segundo seus cálculos, significa aproximadamente 600 habitantes para cada policial.
Nesse número constam os policiais que trabalham no Fórum, na penitenciária, trânsito, administração e outros órgãos. Também vale lembrar que os policiais que atuam nas ruas têm turnos de 12 horas. ''Os países europeus, que têm menos problemas sociais, têm um número bem maior de policiais do que nós'', comparou.
Dalbem citou o caso da cidade de Nova York, nos Estados Unidos, onde um aumento expressivo no número de policiais acarretou em uma redução significativa dos índices de criminalidade. Ele exibiu ainda uma reportagem televisiva mostrando que a cidade norte-americana estava alugando 6 mil celas vazias para os municípios vizinhos. ''O ladrão não é burro. Se ele souber que tem policiais nas ruas, não vai cometer o delito.''
O padre Cézar Braga, abordando a questão da violência infantil, ressaltou a necessidade de se investir em medidas preventivas, proporcionando melhores condições de vida à população, atendendo pelo menos às suas necessidades básicas como saúde, educação e moradia. Também seria preciso dar assistência aos pais e promover o empreendedorismo juvenil, dando oportunidades de trabalho aos jovens. Para ele, a falta de perspectivas, aliada a vários outros fatores, é uma das causas da criminalidade entre os jovens. ''Eles muitas vezes não querem voltar a cometer delitos, mas retornam à mesma realidade, nas mesmas condições de antes.''
De posse de uma lista de 20 adolescentes que cometeram delitos mortos em 2003, o professor César Bueno constatou que a maioria tinha cometido roubo ou furto, em valores que iam de R$ 12,35 a R$ 850,00. ''Os valores dos atos infracionais foram bastante insignificantes, já o custo para o Estado e a sociedade foram enormes'', comparou.
Ele propôs que se coloque em prática uma justiça reparativa, deixando a responsabilidade pela busca de uma solução para determinados atos infracionais a cargo de todas as pessoas envolvidas. Assim, o criminoso, a vítima, familiares e todas as pessoas diretamente envolvidas com o caso se reuniriam com um mediador e todos buscariam a melhor forma de se reparar os danos causados. ''É preciso abolir as leis uniformes e os saberes iluminados, aproximar as partes e eleger regras de indenização, considerando outros valores. Já transferimos responsabilidades demais para o Estado'', alegou, lembrando que, na justiça comum, a vítima não tem voz na determinação da sentença. O professor tem planos de colocar em prática essa idéia, de forma experimental, em algum bairro da cidade.
Tanto para Dalbem quanto para Braga, sem uma mobilização popular a sociedade dificilmente vai chegar a algum resultado concreto na luta pela redução da criminalidade. ''Ao invés de se conformar, a população tem que ser mais participante'', recomendou Dalbem, acrescentando que quem tem mais conhecimento deveria se sentir na obrigação de repassá-lo aos outros, para que todos compreendam onde e como buscar seus direitos. ''Sugiro que, em vez de reproduzir os mesmos discursos, as pessoas procurem conhecer como é feito o serviço de recuperação desses jovens, e dêem oportunidade a eles'', afirmou Braga.