Curitiba

Albari RosaLendas, suposições e muitos palpites cercam o trabalho do grupo que tenta desvendar o mistério de um túnel de pedra cuja construção é atribuída a jesuítas que viveram em Paranaguá no século 17. A expedição, iniciada há pouco mais de uma semana, já sofre com o cansaço provocado pela existência de paredes de concreto que exigem um pesado esforço de perfuração. O trabalho anda lento e, por enquanto, sem informações que permitam saber o que há de verdade nas histórias contadas sobre o túnel.

Albari RosaO grupo, formado na maioria por pesquisadores diletantes, trabalha num local que seria uma das entradas para o túnel: embaixo da ‘‘Fonte da Gamboa’’, construída em 1656 no Centro de Paranaguá, para abastecer a vila e fornecer água aos navios. São cerca de 15 pessoas, de várias profissões, lideradas pelos empresários Luiz Colnago, 45 anos, e Cláudio Dittert, 32, ambos de Curitiba.
Acostumados a passar os finais de semana explorando cavernas, rios e cachoeiras escondidas, os dois reuniram um grupo que inclui, entre outras pessoas, dois arquitetos, um advogado e um geólogo. A eles têm se juntado moradores de Paranaguá que há anos alimentam curiosidade sobre o túnel e o que se conta a respeito. É o caso do funcionário público aposentado Wilson Passos Santos, que há mais de 20 anos lê sobre o assunto, interessado nas lendas sobre a existência de tesouros deixados pelos jesuítas na cidade. ‘‘Até hoje, só encontrei algumas moedas de prata’’, conta.

Albari RosaDurezaOperário trabalha para perfurar a parede de concreto encontrada no início do túnel, construído embaixo da Fonte da Gamboa (acima). Uma das entradas do túnel fica numa das paredes da fonte (à esquerda). ‘‘Estamos procurando a história: saber se esse túnel realmente existe, até onde vai e que o pode ter significado’’, diz Dittert, perto de outra entrada do túnel, em cima da fonte (à direita)Cláudio Dittert diz que a expedição não está ligada a interesses desse tipo. ‘‘Estamos procurando a história: saber se esse túnel realmente existe, até onde vai e que o pode ter significado’’, afirma. Nos registros históricos não há qualquer indicação concreta sobre o túnel que, segundo algumas versões, teria servido de refúgio aos jesuítas que viveram no Litoral paranaense no século 17.
A rica imaginação popular já determinou vários traçados para a construção subterrânea. ‘‘Dizem que ele vai até a Catedral e tem ramificações com o Museu Arqueológico, terminando na Igreja da Ordem’’, diz Odair de Miranda, um marítimo aposentado que também passa o tempo acompanhando o trabalho na Fonte da Gamboa.
Até agora, o grupo não conseguiu avançar mais que 15 metros, por causa das paredes de concreto. Elas teriam sido construídas pela prefeitura, há alguns anos, para impedir o acesso ao túnel, onde, segundo os boatos, teria morrido uma criança curiosa.
A curadora do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, Rosina Parchen, acha que a expedição deverá servir para desmistificar o assunto. ‘‘A nossa concepção, como técnicos, é que essa construção subterrânea faz parte da infra-estrutura urbana e foi feita para a captação de águas pluviais’’, afirma.
Como a área onde se encontra o suposto túnel é tombada pelo Patrimônio, o trabalho teve que ser autorizado pela curadoria. ‘‘Analisamos a proposta e os currículos dos integrantes da expedição e concluímos que não são aventureiros, capazes de causar danos ao patrimônio’’, afirma Rosina.
Mas há quem questione a seriedade da expedição e se preocupe com seus resultados. O pesquisador Igor Chmyz, do Centro de Estudos Arqueológicos da Universidade Federal do Paraná, acha ‘‘um absurdo’’ que uma expedição desse tipo não inclua um arqueólogo. ‘‘O que me preocupa é que essas pessoas passem a danificar estruturas antigas, o que seria um ato de vandalismo’’, afirma.
Chmyz também acha praticamente impossível que o túnel abrigue qualquer resquício de riqueza dos jesuítas. ‘‘Nossa experiência em outras áreas que foram habitadas pelos jesuítas mostram que eles viviam na pobreza’’, afirma. Mas o professor admite que um trabalho sério no local é importante. ‘‘Todos os locais por onde os jesuítas passaram são envoltos em lendas, mas muitas lendas têm uma parte de verdade’’, afirma.