Unidade londrinense atendia uma média de 250 pessoas por dia; muitos itens eram fornecidos de graça e outros tinham desconto de até 90%
Unidade londrinense atendia uma média de 250 pessoas por dia; muitos itens eram fornecidos de graça e outros tinham desconto de até 90% | Foto: Gina Mardones



A Farmácia Popular do Brasil encerrou nesta quarta-feira (31) as atividades em Londrina. Ao todo, 393 unidades do programa, que eram custeadas pela União, deixaram de receber verbas federais desde maio. Segundo informações do ministério, as prefeituras poderiam optar por manter as unidades, desde que fosse realizado com recursos próprios. Não foi o caso de Londrina.

A unidade local do programa atendia uma média de 250 pessoas por dia. Em seis anos foram beneficiados aproximadamente 200 mil pacientes, que deixaram de desembolsar R$ 6 milhões. Muitas pessoas foram assistidas e a população perder esse programa proporciona um sentimento de tristeza. O programa havia tornado o acesso ao medicamento mais fácil", resume o coordenador do programa em Londrina, Valcir Miguel da Silva. Muitos dos medicamentos disponibilizados para as farmácias são distribuídos de graça. Outros produtos contam com descontos que vão de 75% até 90%. Os remédios são vendidos tanto para pessoas com receitas cedidas pelo SUS como para receitas feitas por médicos particulares.

Segundo a técnica de enfermagem que trabalha na dispensação, Delfina Aparecida de Souza, alguns pacientes choraram quando foram comunicados sobre o fechamento. "É muito triste, porque a gente sabe que a condição financeira dos brasileiros está muito difícil. Tem gente que não tem dinheiro nem para o ônibus e vem caminhando até aqui de regiões distantes."

O atendimento dos últimos usuários dos serviço foi melancólico. Muitos não sabiam o que iriam fazer para obter os medicamentos a partir de agora. O agricultor aposentado Luiz Antônio Pereira, 74, é usuário desde a sua inauguração. "Eu moro em Irerê (distrito rural na zona sul). Venho buscar medicamento para o coração", relata. Ele caminha com dificuldade, usa muletas e mensalmente vinha à cidade para conseguir o medicamento. "A gente fica sentido, mas não pode fazer nada. De um jeito ou de outro tenho que procurar o remédio."

Com o fim do repasse federal, a unidade londrinense já vinha registrando a falta de alguns medicamentos. Para a dona de casa Silmara Carneiro Lobo, 60, ir à Farmácia Popular no último dia foi inútil. "Vim buscar fluoxetina, mas não tinha mais", lamenta, fazendo uma comparação do valor do medicamento em uma farmácia particular e na FPB. "O remédio que custa R$ 60 nas farmácias privadas a gente paga R$ 3,50 aqui. Com esse fechamento, cada dia está mais difícil para a gente. Agora vou passar na Farmácia Municipal."

A farmacêutica Carolina Monteiro Lapa Vasques disse ter sido pega de surpresa sobre o fechamento. "A gente vê que a população irá ficar desamparada. Mesmo tendo a opção de pegar na Farmácia Municipal, nem todo medicamento está disponível lá e nem nas farmácias conveniadas", lamenta. Dos 125 medicamentos disponibilizados pela Farmácia Popular, apenas 20 não faziam parte da seleção de produtos oferecidos pela rede básica do Município. A partir de agora, os medicamentos do programa que não estiverem disponíveis nas UBS poderão ser adquiridos nas farmácias conveniadas - com a identificação "Aqui Tem Farmácia Popular".

ALTERNATIVAS
O secretário de Saúde de Londrina, Felippe Machado, afirma que o encerramento da parceria com o Ministério da Saúde torna economicamente inviável para o município a manutenção da unidade. Ele informou que a secretaria estuda alternativas para a incorporação desses itens na Remume (Relação Municipal de Medicamentos). "Em cerca de 15 dias, devemos finalizar essa análise. A intenção é trazer para a atenção básica aqueles medicamentos que não são comuns nas UBS de Londrina e que estavam sendo comercializados pela Farmácia Popular. O mais importante é não deixar a população desassistida e garantir o acesso aos medicamentos", ressalta.

Segundo informações do Ministério da Saúde, cerca de 90% dos usuários do programa Farmácia Popular buscam medicamentos para hipertensão, diabetes e asma, que são gratuitos. "Eles continuarão tendo acesso aos fármacos, de forma gratuita, nas unidades particulares cadastradas", informa o secretário.

Machado explica que o MS vai aumentar o ressarcimento ao município de R$ 5,10 ao ano por habitante para R$ 5,58. "O ministério trabalhava com os dados do IBGE de 2010 e agora irão atualizar com os dados do IBGE 2016. Pelas nossas estimativas, Londrina receberá uma diferença de R$ 450 mil a R$ 500 mil ao ano com esse reajuste", destaca.

Os funcionários que trabalhavam no espaço devem ser remanejados para a Farmácia Municipal e outros unidades. Os medicamentos que ficaram no estoque também serão absorvidos pelas unidades básicas de saúde.