''Eu sempre como devagar para facilitar a digestão e evitar problemas no estômago. Acho que é até por isso que nunca sofri com nenhum problema relacionado a isso.'' Embora o hábito do metalúrgico Antonio Carlos de Paulo, de 58 anos, seja recomendado por médicos e nutricionistas, nem todo mundo consegue prestar atenção nessa atividade tão instintiva e acaba engolindo o alimento muito rápido.
No entanto, para evitar dores de cabeça e de ouvido e garantir uma boa absorção do alimento pelo organismo, é preciso observar o padrão de mastigação e alimentar-se com calma. ''Não existe uma regra, mas a orientação é que cada porção seja mastigada cerca de 30 vezes'', aconselha a nutricionista da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde Roberta Rehem.
A principal recomendação da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia para uma mastigação correta é usar os dois lados da boca. Os movimentos devem ser verticais e rotacionais. Isso faz com que os músculos da boca se movimentem corretamente, evitando alterações na arcada dentária.
A fonoaudióloga do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Lizandra Konflanz de Lima Damiani, reforça a orientação. ''A mastigação deve ser bilateral. Quando isso não ocorre, acontece uma deformidade na arcada dentária, o que sobrecarrega a musculatura'', explica. O principal organismo afetado é o osso, que liga a mandíbula ao crânio. ''A partir daí ocorrem estalos e dores de cabeça'', conclui.
Cada dente tem uma função no momento da mastigação. Os dentes da frente devem ser usados para cortar os alimentos. Os do meio (pré-molares) para triturar a comida e os de trás (molares) para pulverizar as porções. ''Essa atividade é instintiva. Os pré-molares e molares, por exemplo, já têm os formatos naturais de trituradores'', explica a fonoaudióloga.
Do ponto de vista nutricional, a recomendação é que a refeição seja demorada. Por isso, é preciso mastigar mais vezes. Quem não se preocupa com isso tem problemas de digestão. ''Isso acontece porque a comida chega maior no estômago e, assim, a digestão vai ser mais lenta, mais difícil. A sensação de cansaço após a refeição também é maior porque o organismo vai gastar mais energia na digestão'', explica Roberta Rehem.
A boleira Sonia Marli Ferracini, 47, conta que percebe a diferença quando faz uma refeição rápida ou demora mais tempo mastigando os alimentos. ''Eu me sinto mais leve, acho que é porque o estômago não fica tão sobrecarregado com a comida'', declara, acrescentando que nunca imaginou que o cuidado evitaria problemas auditivos, dentários e dores de cabeça. ''Isso é uma supresa para mim e um motivo a mais para prestar mais atenção quando estiver comendo.''
Para a digitadora Ligia Maschio, 27, a ansiedade atrapalha a mastigação correta. Ela conta que gostaria de se alimentar de forma mais lenta e saboreando bem os alimentos, mas tem dificuldade para conseguir isso. ''Acho que quando a gente come devagar saboreamos mais os alimentos, garantimos uma digestão saudável e ainda comemos menos. Mas nem sempre é fácil'', admite.
A nutricionista Roberta Rehem complementa que, assim como os dentes, a língua é essencial no processo de mastigação porque a saliva possui enzimas digestivas. ''A digestão começa na boca. A saliva possui as enzimas que iniciam o processo de digestão dos carboidratos'', explica. Não é recomendável, no entanto, consumir líquidos durante as refeições.

Imagem ilustrativa da imagem Mastigação correta evita dor de cabeça e problemas digestivos