A estudante de medicina Gabriela Razente Fontes está acostumada desde o ensino fundamental a usar materiais que já passaram por outros alunos: "Não me prejudicou em nada"
A estudante de medicina Gabriela Razente Fontes está acostumada desde o ensino fundamental a usar materiais que já passaram por outros alunos: "Não me prejudicou em nada" | Foto: Gina Mardones



O início do ano é o período mais complicado para as finanças das famílias. É quando vencem os impostos e os pais precisam desembolsar altas quantias do orçamento para custear a matrícula, material, uniforme e livros didáticos dos filhos. Mesmo aqueles que se planejam e poupam para dar conta de todos os gastos sentem o peso no bolso. Mas existem algumas maneiras de economizar. Uma delas é pela troca ou compra de livros usados.

Pensando na economia e também no uso consciente dos livros e uniformes, um grupo de pais do Colégio Marista usa uma rede social como canal de comunicação para venda, doação e troca desses itens. A atual administradora do Clube de Trocas de Pais e Alunos do Marista Londrina, Beatriz Demenech Mori, diz que o espaço foi criado por uma amiga em 2012. "Hoje, o clube tem mais de 800 membros", conta.

Segundo Mori, mãe de duas crianças em idade escolar, a rede social funciona como um grande mural, só que é uma ferramenta muito mais rápida e eficiente para as trocas. Nesta época do ano, o número de pedidos para entrar no clube aumenta. A participação é restrita a membros da comunidade escolar. Eventualmente, alguns pais aproveitam o espaço para divulgar outros serviços. Um aplicativo de mensagens instantâneas é usado como complemento na troca de informações.

Ela garante que os materiais usados não prejudicam em nada o desempenho escolar. "Meu filho estudou do quarto ao nono ano sempre com material usado e é excelente aluno. Minha filha está no sexto ano e também faz o mesmo. O material usado não atrapalha em nada", afirma. Uma das preocupações dos pais, segundo ela, é de que os filhos conseguirão ver as respostas das questões apresentadas nos livros, mas isso pode ser resolvido de maneira simples. "Eu apago, cubro as respostas com papel, mascaro com lápis", ensina.

Para a mãe, que também é educadora, o clube de trocas não se resume apenas em economizar dinheiro. É uma forma de ensinar as crianças a reutilizar, compartilhar, doar e dar uma destinação mais nobre aos materiais que ainda estão em condição de uso. "A minha filha tem a consciência que deve cuidar do material porque sabe que ele será usado por outro aluno no próximo ano", argumenta. Livros paradidáticos podem ser adquiridos com até 50% de desconto por meio do clube. Já os didáticos usados custam apenas 30% do valor de um novo.

Keila Dias, mãe de uma menina de 10 anos, participa do clube há cerca de três. "Para mim, foi uma maravilha. Conseguimos trocar, vender e comprar baratinho. Dá para economizar até 70%", afirma. Este ano, ela explica que se fosse comprar tudo novo gastaria R$ 1,5 mil em livros. Com a aquisição de usados, a conta ficou em R$ 600. Ela diz que orienta a filha a cuidar do material porque, no próximo ano, será repassado para outra criança. Com a economia nos livros, dá até para agradar a filha comprando um caderno mais caro, do personagem da moda. "Ela está muito animada", garante.

SEBOS
Para os pais que não contam com canais como o clube de trocas, os sebos são uma excelente alternativa. A gerente do Sebo Capricho, Rosemeire Marcelino, diz que possui materiais usados por várias escolas de Londrina. "Muitos pais vêm ao sebo para comprar ou trocar", conta. Segundo ela, muitas vezes os livros saem pela metade do preço de um novo ou até menos que isso.

Marcelino afirma que procura pegar livros em bom estado, pouco escritos e, claro, de edições pedidas nas listas das escolas. Volumes únicos, por exemplo, que servem para três anos e chegam a custar quase R$ 200 nas livrarias, podem ser encontrados por R$ 99. A gerente explica que é possível trocar os livros do ano passado pelos deste ano. Segundo ela, o movimento aumenta nesta época.

COSTUME
A estudante do segundo ano de medicina da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Gabriela Razente Fontes, 19, conta que desde o Ensino Fundamental utiliza materiais usados por outros estudantes. "É um costume da minha família mesmo. Com a minha irmã, minha mãe já fazia isso, comprava usado e revendia. Quando chegou a minha vez, foi a mesma coisa", afirma.

Alguns livros do cursinho foram reaproveitados da irmã. Outros, comprados na internet e em sebos. "Não me prejudicou em nada. Eram livros muito bem cuidados. O trabalho que eu tive foi de apagar as respostas", diz. Como sabia que ia repassar os materiais, Fontes conta que não ficava rabiscando as páginas. "Eu fazia os exercícios numa folha e colocava junto", ensina. A reutilização rendeu uma boa economia. Dos mais de R$ 2 mil que gastaria para a compra de livros novos para o cursinho, desembolsou apenas R$ 800. Quando passou no vestibular, a estudante vendeu uma parte dos materiais e doou outra.