A mão esquerda agarra firme a cana, a direita empunha o facão, faz o movimento vigoroso do corte. O sol castiga, o calor desgasta, a repetição prossegue por horas e horas. O boia-fria sofre. Tanto que às vezes desaba derrotado, com cãimbras generalizadas e espasmos. É o chamado borrado, um dos maiores fantasmas enfrentados por quem vive boa parte do tempo ganhando a vida nos canaviais. No dia em que isso acontece, o tema saúde torna-se obrigatório em qualquer conversa após o expediente.

No ''descanso'', quando o esgotamento físico é enfim vencido, o fenômeno que a ciência chama de sofrimento social entra em cena.

Para estudar o tema, o professor Antonio Donizeti Fernandes, de 47 anos, do Centro de Ciências Humanas e da Educação (CCHE) da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), no campus de Jacarezinho (Norte Pioneiro), radicalizou. Em 2009, decidiu se instalar em uma das comunidades mais pobres da cidade, onde grande parte das 80 famílias era composta por cortadores de cana-de-açúcar que se deslocam diariamente em grupo até a lavoura.

Por dois meses viveu de maneira precária em um barraco, em condições bem semelhantes aos boias-frias. ''Queria ficar mais, fiz muitas entrevistas, colhi muitas imagens. Mas quando senti que estava realmente ameaçado, resolvi que já era hora de voltar pra casa'', conta o professor.

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