Na UBS Novo Amparo eram realizados entre 150 e 200 atendimentos por dia
Na UBS Novo Amparo eram realizados entre 150 e 200 atendimentos por dia



Nos últimos meses o Conjunto Novo Amparo (zona norte de Londrina) tem registrado vários crimes, como homicídios e tiroteios. O resultado é um clima de insegurança a ponto de a prefeitura determinar o fechamento temporário da unidade básica de saúde do bairro e a transferência da equipe e do atendimento para a UBS Milton Gavetti, localizada a pelo menos dois quilômetros de caminhada ou quase três quilômetros de carro. A UBS Novo Amparo, cuja área de abrangência atinge uma população de 4,9 mil pessoas, possui 16 servidores. No espaço eram realizados entre 150 e 200 atendimentos por dia, segundo estimativa da Secretaria Municipal de Saúde.
A transferência da equipe foi feita às pressas, na tarde de segunda-feira (16), quando aconteceu mais um tiroteio. O veículo utilizado pela equipe de Saúde da Família foi estacionado dentro da sala de espera da unidade, possivelmente para protegê-lo de qualquer ação de vandalismo. A reportagem esteve no bairro na manhã desta terça. O telefone permaneceu tocando sem que ninguém atendesse, indicando que os moradores da região possivelmente estariam ligando em busca de informações.
Ao chegar ao local, além da unidade fechada, a reportagem encontrou todas as residências do assentamento no entorno da UBS com as portas e janelas cerradas. Alguns moradores não quiseram conversar, demonstrando que ali vigora a lei do silêncio. "Se eu der entrevista para você, no dia seguinte estou morto", disse uma das pessoas ouvidas. "Não vi coisa alguma, não estou sabendo do que aconteceu e nem quero falar sobre o assunto", declarou outra.
Os poucos moradores que conversaram com a reportagem pediram para não serem identificados. Não queriam ser fotografados e nem queriam ver seus nomes expostos, mas demonstraram preocupação com a UBS fechada. "Eu tenho família e meu neto sempre precisa ir para lá. Eles não podem fechar essa UBS", destacou um um dos moradores.
Outra pessoa criticou a atitude da prefeitura. "Eles saíram porque quiseram. Ninguém faz nada contra os servidores da UBS. A gente até protege o posto de saúde. Ninguém mexe com eles", declarou. Ela ressaltou que mesmo quando funcionava, era difícil obter atendimento médico ali. "Uma vez um rapaz entrou lá com braço quebrado e não atenderam porque ele estava sem documento", criticou. Logo após esse depoimento, uma pessoa de moto passou pelo local e a roda de moradores foi dispersa.
Uma das servidoras da UBS Novo Amparo relatou que estava presente quando houve uma rajada de tiros no bairro recentemente. "Foram muitos tiros. O pessoal do assentamento que reside em frente acabou entrando na UBS para se proteger. Os próprios bandidos ficaram na frente da unidade. Não chegaram a entrar, mas a situação é feia. Há um clima de medo. Não temos condições de trabalhar ali", declarou.
A servidora ressaltou que esse clima afeta o trabalho, já que ninguém consegue se concentrar. "Eu fico imaginando que se vier um baleado procurar atendimento na unidade, pode vir outra pessoa para terminar de matar o paciente", afirmou. Segundo ela, em dezembro um baleado foi para a UBS buscar atendimento e houve esse risco. "Se o bandido entrar lá no posto pode atingir um funcionário", apontou.

Movimento normal de pacientes na unidade do Milton Gavetti na manhã de terça
Movimento normal de pacientes na unidade do Milton Gavetti na manhã de terça | Foto: Fotos: Saulo Ohara



‘SOMOS HUMILDES’
A unidade do Milton Gavetti possui 21 servidores e a área de abrangência da engloba 10 mil pessoas. A estimativa é de que o local realize o atendimento de 250 a 300 pacientes por dia. Segundo informações da Saúde, nesta terça pela manhã, o fluxo de trabalho das equipes integradas das duas unidades não foi afetada. Isso porque do 80 pacientes que procuraram a unidade pela manhã, apenas dez eram do Novo Amparo.
Uma das pessoas do Novo Amparo que procurou a UBS do Gavetti foi um senhor que andou dois quilômetros para chegar ao local. "Deixei minha esposa acamada em casa para vir buscar medicamentos. Tive que andar no meio do mato. Estou há nove meses esperando para fazer uma ressonância magnética porque tenho tendinite e problema no joelho. Para andar é uma dificuldade e eles fazem isso com a gente", criticou. "Como pagador de imposto temos direito à saúde. Nós somos pobres, somos humildes."
A auxiliar de serviços gerais Ana Carolina Nascimento é moradora do Milton Gavetti e desconfia que o atendimento de pacientes do Novo Amparo possa se estender por muito tempo. "A prefeitura não tem que remanejar ninguém. É preciso acabar com a insegurança por lá primeiro" declarou.