A Prefeitura de Londrina não tem um levantamento detalhado da infraestrutura escolar oferecida às cerca de 40 mil crianças e adolescentes matriculados na rede municipal. A falta de dados sistematizados é um problema antigo, que persiste na atual administração, embora a Secretaria de Educação conte agora com uma Diretoria de Estrutura Física, desmembrada da Diretoria de Planejamento e Finanças após a posse do atual governo, em janeiro.
A titular da diretoria, Carla Guedes de Paiva, afirmou que a pasta não tem dados específicos sobre quais equipamentos existem nas 110 unidades da rede, composta de 86 escolas de ensino básico e 24 de educação infantil.
De acordo com Carla, a maior parte das informações que direcionam os investimentos é colhida por meio de relatórios enviados pelos diretores das escolas, e são dominados por reclamações sobre manutenção e segurança dos prédios.
O tema infraestrutura escolar ganhou visibilidade entre os educadores com a divulgação este mês do estudo "Uma Escala para Medir a Infraestrutura Escolar", de um grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que analisaram dados do Censo Escolar de 2011, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
O estudo revela um quadro desanimador: 44% das escolas brasileiras de educação básica têm apenas infraestrutura mínima, com água, banheiro, energia e esgoto. No Nordeste, este índice alcança 71%. "Há um percentual alto de escolas que não têm requisitos básicos, como sala de diretoria, sala de professor e biblioteca", diz um trecho do artigo. "Assim fica transparente a necessidade de políticas públicas que visem diminuir as discrepâncias e promover condições escolares mínimas para que a aprendizagem possa ocorrer em um ambiente escolar mais favorável."
Em Londrina, de acordo com a diretora de estrutura da Secretaria de Educação, a maior parte das escolas seria classificada como adequada na pesquisa (o estudo dos pesquisadores não tem dados por município). Mesmo sem dados completos, Carla fez uma avaliação a pedido da FOLHA.
De acordo com ela, a maioria das escolas municipais de Londrina conta com TV, DVD, impressora, internet e biblioteca. No entanto, menos de um terço delas tem laboratório de informática. "Sala especial para reforço nós temos em cerca de 50% das unidades. Entre as mais novas e as maiores, quase todas contam com este equipamento", informou.
Carla também disse que a maioria das escolas tem quadra esportiva coberta, mas admitiu que apenas uma minoria tem parque infantil. "Esta administração está consciente da necessidade de se instalar este equipamento em todas as unidades. A secretária considera os parquinhos imprescindíveis", afirmou, sem, no entanto, revelar quando eles serão realmente instalados.
A falta de informação sobre infraestrutura não é exclusividade de Londrina. Para os pesquisadores é quase uma regra. O estudo divide as unidades entre municipais, estaduais, federais e privadas, apresentando um quadro de disparidades. No entanto, as escolas que pertencem às redes municipais têm a pior classificação. Menos de 7% delas têm estrutura considerada adequada, quatro vezes menos que o índice das particulares.
"No Brasil, sempre se negligenciou a necessidade de uma infraestrutura melhor nas escolas, principalmente nas redes municipais. Creio que com a universalização o grande desafio para a educação nesta década é a melhora da qualidade. Para isso, além de bons professores, as escolas precisam de uma boa estrutura", analisa o professor Joaquim José Soares Neto, do Instituto de Física da UnB e coautor do estudo. "O estudo tem a pretensão de preencher uma lacuna porque constatamos que existem muito poucos trabalhos sobre infraestrutura escolar", afirma.
O mesmo grupo de pesquisadores está avaliando dados dos censos escolares de 2007 a 2012, para captar o ritmo do avanço da estrutura física das escolas nos últimos anos, na segunda etapa da pesquisa. "Vamos acrescentar mais 16 equipamentos na pesquisa, o que pode alterar a classificação das unidades", adianta. No estudo divulgado este mês, são 24 itens analisados. "O que podemos dizer é que os dados podem nortear os investimentos, que pelos resultados devem ser concentrados na área rural e nas regiões Norte e Nordeste do País."
Na conclusão do artigo, os pesquisadores fazem um alerta: "Este estudo demonstra o quanto o Brasil ainda está distante, não somente da equidade entre as escolas, mas também da garantia de um padrão mínimo de qualidade".

Imagem ilustrativa da imagem Escolas carecem de estrutura básica