Foi de 1943 para 1944 que a família Riello deixou Boituva, no interior paulista, para trabalhar - e muito - no Norte do Paraná; especificamente em um lugar que ainda conservava em pé boa parte da densa floresta, integrante do bioma da mata atlântica, que um dia cobriu todo o manchão de terra vermelha entre os rios Tibagi e Ivaí.
Luiz, 70 anos, terceiro dos seis filhos do patriarca Vicente Riello, cresceu na comunidade de Bela Vista, a pouco menos de cinco km do Centro da pequena Cambira, hoje com 7,2 mil habitantes. Viu de perto toda a mudança da região: a derrubada da mata, as plantações dos cafezais e suas fartas colheitas, a queda do preço e as geadas que castigavam a cultura, o corte dos pés de café e as plantações de grãos substituindo as floradas brancas.
Acompanhou também as inovações tecnológicas, os carroções de rodas de madeira dando lugar aos automóveis, a enegia elétrica tocando aparelhos antes movidos pelas mãos humanas ou pela força das águas. Devanil Aparecido Riello, 41, filho de Luiz, também viu as coisas mudando, rapidamente. Lembra-se das latas que serviam como chuveiros, içadas por carretilhas contendo água quente. Nos dias frios, o banho tinha que ser rápido, pois a água logo estava gelada.
Contrariando a tendência de êxodo rural dos anos 1970, os Riello permaneceram na pequena propriedade, de 8,5 alqueires, vivendo da produção do sítio São Vicente, cuja sede, constituída de casas simples é um ''brinco'', decorado com árvores ornamentais, orquídeas, duas pequeninas grutas - Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora Aparecida - e um parquinho para as crianças.
Mas é dentro de um antigo galpão, que outrora serviu para a criação de bicho-da-seda, cercado de bambu e com o chão de terra, que está o maior tesouro - cultural, é bom que se avise aos gatunos - do sítio. Ali funciona um museu, já com mais de 400 peças, mantido pelos Riello. O acervo retrata como era a vida das famílias do campo nos primeiros anos de colonização do Norte do Paraná, além de guardar também peças centenárias de camponeses de outras regiões do Brasil e do exterior, como Paraguai e Itália.
Devanil, que hoje trabalha em uma empresa de fertilizantes, conta que o museu nasceu por acaso, quando ele e o pai pensaram, há cinco anos, em começar uma coleção de peças antigas. A primeira foi uma roda de carroça, que ele ganhou depois de insistir com o antigo dono. Outros objetos foram aparecendo, comprados ou ganhados, e o acervo só fazia crescer. Quando viram, já estavam organizando e catalogando tudo de modo que era só abrir para visitação para chamar de museu.
Escolas e estudantes de universidades são a maioria das visitas. Outra parte é de gente que quer matar saudade, derrubando lágrimas ao ver coisas como radiolas, lamparinas e lampiões, carros-de-boi, carroças ainda com placas - do tempo em que era obrigatório que elas as tivessem -, um bigual de carregar água e outros objetos.
Luiz e Devanil nada cobram dos visitantes. Dizem que estão realizados, tendo a oportunidade de transmitir adiante traços importantes das cultura e da história de onde vivem. ''Hoje, muitas crianças e jovens não acreditam que se usava o que veem aqui. Imagine as futuras gerações'', diz Devanil, pai de um garoto de cinco anos.
Logo o museu deve ser ampliado, informa Luiz. E vai ganhar placa: Museu Vicente Riello. De portas abertas, na zona rural, para quem quiser aprender.