Interpretação de textos complexos, resolução de complicadas equações matemáticas e outras atividades integrantes da grade curricular do ensino médio podem ser mais fáceis para os estudantes que frequentaram a pré-escola. Apesar de não haver relação aparente entre as habilidades adquiridas na primeira infância e as necessidades dos alunos que preparam-se para enfrentar o vestibular e o mercado de trabalho, uma pesquisa divulgada pelo Ministério da Educação revelou que meninas e meninos que frequentam a escola desde a educação infantil têm 32% a mais de chances de concluir o ensino médio.

As brincadeiras orientadas pela professora durante os primeiros anos escolares estimulam o raciocínio, a expressão de ideias por meio da oralidade, a socialização e até mesmo a disciplina necessária para dedicar-se aos estudos. ''A maior dificuldade dos vestibulandos diz respeito à leitura e interpretação de enunciados e outros textos. Estas são habilidades que começam a ser desenvolvidas na pré-escola'', avalia a diretora de ensino da Secretaria Municipal de Educação, Maria Inês Galvão de Mello.

Segundo ela, a proposta pedagógica adotada pela secretaria tem como foco principal a ludicidade. ''É o brincar com objetivos'', resume. Atividades realizadas dentro de uma rotina pedagógica que inclui teatro, musicalização, contação de histórias, brincadeiras no parque e o desenvolvimento da oralidade são sempre orientadas pelas professoras.

No Centro Municipal de Educação Infantil Valéria Veronesi (Área Central), a diretora Cristhiane Martins Kussima conta que as crianças são estimuladas desde os primeiros meses. Além da fala e da ampliação do vocabulário, elas treinam a coordenação motora fina e aplicada, a lateralidade e adquirem autonomia para realizar atividades específicas para cada idade, como lavar mãos ou trocar de roupa.

Para ela, uma das vantagens de frequentar a escola antes dos 6 anos é a exposição a situações de aprendizagem específicas. ''As crianças que ficam em casa assistem muita TV e acabam não se desenvolvendo. A educação infantil também mantém o hábito de brincar.''

A pequena Quésia, de apenas um ano, frequenta o centro de educação infantil desde o início do ano e já surpreende a mãe, a copeira Rosângela Maria Soares, com as mudanças no comportamento. ''Na escola ela se alimenta bem, engatinha e aprendeu a conviver com crianças e adultos'', diz.

Mãe de adolescentes que frequentaram a pré-escola, ela pôde observar o benefício da educação infantil também nos maiores, que até hoje sabem se relacionar com outras pessoas e comportam-se bem em público. ''Isso tudo eles aprenderam ainda pequenos'', acredita.

A costureira Vera Lucia de Freitas Bueno é mãe de Paola, 5, e de outros dois filhos adultos. A caçula frequenta a escola desde os 5 meses. Nascida prematuramente, ela conseguiu superar as dificuldades dessa condição com o auxílio das atividades pedagógicas.

''Ela é mais desenvolvida que os meus filhos mais velhos quando tinham a mesma idade'', conta a mãe, que sempre se espanta com as coisas que a filha diz. ''Esses dias ela deu uma aula sobre a importância de preservar o meio ambiente. É o tipo de conhecimento que será útil para toda a vida'', avalia.

Victor Hugo, 5, também surpreende a mãe, a vendedora Carina Gonçalves Ferreira, com os conhecimentos adquiridos na pré-escola. ''Ele é muito comunicativo e sabe muitas coisas. Esses dias fez um trabalho muito completo sobre tubarões, até os adultos aprenderam sobre o tema.''