''As drogas começam a fazer parte da vida do adolescente desde muito cedo; se a partir dos 11 anos, uma criança já se interessa por isso, ela também é capaz de entender as consequências que rodeiam suas escolhas.'' A afirmação é de Carlos Eduardo Vendramento, 30 anos, ex-usuário de drogas, que há seis se mantém longe do vício. Ele aproveitou o Geração Debate, realizado na manhã de ontem na Igreja Nova Aliança (INA), para alertar adolescentes sobre o assunto.
''Tudo começou com as amizades. Experimentei uma vez, duas, três e aí eu fui me viciando sem nem perceber. Na época, eu tinha apenas 12 anos. Todo o dinheiro que eu ganhava ia direto para as drogas. Cheguei a usar maconha, crack, cocaína, todo tipo de droga'', relatou Vendramento, supervisor do grupo de adolescentes. ''Até que há seis anos, conheci o amor de Deus por mim e deixei tudo isso. Não foi fácil, mas consegui''.
O depoimento de Vendramento é somente um entre os vários testemunhos ouvidos por mais de 1,2 mil adolescentes e jovens, de 11 a 25 anos, vindos de 22 cidades de vários estados, que participaram do evento. Além dos jovens, profissionais convidados que vivenciam diariamente o drama de usuários participaram. Tudo comum só objetivo: discutir a relação dos adolescentes com as drogas e a sexualidade com uma linguagem simples e uma abordagem inovadora, que os façam refletirem sobre as consequências de suas livres escolhas.
Além dos depoimentos de jovens, os participantes assistiram vídeos que mostram o fácil acesso a substâncias entorpecentes nas baladas, acompanharam orientações repassadas pelo capitão Wlater Luiz, da Patrulha Escolar da Polícia Militar e ainda puderam entender um pouco mais sobre os efeitos que as substâncias têm no organismo com o psiquiatra Paulo Nassar, de Londrina.
Repressão e prevenção
''Propor essa discussão para os adolescentes é fundamental. Acredito que a partir dos 9 anos é o momento ideal para alertar as crianças. Esta é a fase em que elas estão formando suas opiniões sobre o mundo, que começam a pensar por elas mesmas e desejam fazer suas próprias escolhas'', afirmou o capitão Walter.
''Trabalhar somente a repressão não resolve, por isso a importância de atuar também com a prevenção. Quando o adolescente entende todo o contexto do mundo das drogas, não só os efeitos maléficos imediatos, mas também sua interferência nas demais funções do organismo, desde causando um impotência sexual até favorecendo a instalação de um quadro psicótico de difícil recuperação, ele pensa bem antes de ir na onda do 'amigo' '', afirmou o psiquiatra.
Segundo ele, esse trabalho preventivo poderia reduzir a triste estatística, de que cerca de 50 mil jovens morrem, anualmente, direta ou indiretamente, ocasionadas em decorrência do consumo de drogas lícitas e ilícitas.
Emocionada, uma estudante curitibana de 17 anos, concordou: ''Se eu tivesse tido uma oportunidade de ouvir desde cedo tudo o que estes adolescentes estão ouvindo hoje, eu com certeza teria sofrido muito menos.'' A jovem contou que começou a usar drogas aos 12 anos e, depois de experimentar quase todos os tipos de entorpecentes, decidiu abandonar o vício há quatro meses.
O evento faz parte da conferência cristã Geração Livre. Durante os 5 dias, os participantes escolheram participar de uma folia diferente, com com muita música, dança, teatro, mas também pregações e debates sobre temas importantes. ''Tudo com o propósito de, todos juntos, mudarmos o mundo por meio das ações de cada um'', enfatizou o pastor de jovens e um dos organizadores, Eduardo Corcini.