Curitiba - Há quem defenda e utilize e também quem critique e abomine. O fato é que o famoso e já conhecido método da "decoreba" sempre estará presente um dia em nossas vidas. E para aproveitá-lo da melhor forma possível, especialistas e professores explicam de qual forma a memorização pode ser útil no dia a dia.
"É importante não condenar pura e simplesmente a técnica. Ela pode ajudar a qualquer um de nós em diferentes momentos e situações", garante o diretor do pré-vestibular Dr. Acesso, Ivo Lessa Filho, de Curitiba.
Apesar de afirmar que a memorização não desqualifica a informação aprendida e que ela pode ser a melhor metodologia em alguns casos (como ao decorar senhas de bancos e sites e datas de aniversários), para Lessa "deve-se decorar o ferramental de um conhecimento mais complexo até que tenha significado, à medida que é melhor compreendido".
O professor de Biologia Augusto Borba chama o método de "memorística" e concorda que ela é importante na vida, porém deve ser utilizada com moderação. "Sem ela, teríamos dificuldades até em simples contas de adição e multiplicação. No entanto, o aluno deve saber interpretar textos e buscar as respostas com base nas interpretações. Precisamos saber associar a memorística com aquilo que realmente é significativo", diz.

Raciocínio
De acordo com a coordenadora do curso de Pedagogia da UniBrasil, Paulla Helena, um problema enfrentado atualmente é que os professores transmitem o conteúdo, muitas vezes, sem que haja a explicação - e os estudantes acabam por não saber desenvolver o raciocínio. "Alguns profissionais ensinam a tabuada, por exemplo, apenas mostrando o resultado e os fazendo decorar. Isso não é correto, os alunos precisam entender por que 2 vezes 2 é 4", argumenta. "Decorar agiliza o processo de conhecimento, mas deve ser visto como uma consequência do processo, e não como uma única solução. Antes de decorar qualquer coisa, é necessário que haja domínio do conhecimento", completa.
Para o psiquiatra do Hospital Vita, André Astete, a memorização acaba provocando baixo rendimento e pequena absorção de conteúdo. "O que realmente fica registrado no cérebro é o conhecimento que o aluno aprendeu, e não o que tentou apenas memorizar", afirma.
Segundo Astete, a decoreba não é a solução para quem não estudou na hora certa. "Se o aluno não conseguiu absorver o conteúdo até a semana da prova, não vai conseguir em apenas um dia. Ele tem que controlar seu nível de estresse, dormir bem, manter um ritmo saudável e chegar para fazer a prova equilibrado, com aquilo que conseguiu absorver a longo prazo", aconselha.
Além disso, de acordo com o psiquiatra, quando há somente a memorização, em momentos decisivos, o conteúdo acaba ficando para trás. "O nervosismo faz esquecer tudo aquilo que foi decorado", alerta.

Curto prazo
Lessa explica que a "memorística" pode dar maior segurança no início do aprendizado de várias áreas do conhecimento. "Mas os alunos não podem se contentar apenas com as informações memorizadas, sob pena de não responderem provas e vestibulares que exigem as correlações que a decoreba não fornece", diz.
De acordo com o superintendente geral de ensino do Grupo Educacional Acesso, José Ivair Motta Filho, o método não funciona para consolidar o aprendizado, mas pode ser um grande aliado quando se precisa absorver um conteúdo a curto prazo. "Os alunos podem usar o método para decorar hoje o conteúdo que queiram lembrar na prova de amanhã", exemplifica.

Métodos
Há técnicas eficazes ensinadas por especialistas em memorização. "Geralmente, os professores contribuem com músicas e macetes que usam as letras iniciais das palavras a serem memorizadas", afirma Lessa. O professor Augusto Borba acredita que o importante é estabelecer relações com o cotidiano, exemplificando com situações que provoquem no aluno certo interesse. "Gosto de mostrar bons desenhos e esquemas no quadro, misturados com o uso do multimídia, utilizando belas imagens e pequenos vídeos. A soma desses fatores em sala de aula amplia o aprendizado, que se torna mais significativo", justifica. "Nesse caso, o aluno utiliza maior área do córtex cerebral e pode reter a informação por mais tempo", explica Borba.
De acordo com Motta, há pequenas dicas de técnicas que podem facilitar, como músicas, piadas e charges. Depois de aprender o conteúdo, fazer associações pode ajudar a retê-lo por mais tempo.

O que decorar
Lessa garante que esta resposta é muito pessoal. "Há quem consiga correlacionar dados históricos com facilidade e precisa de técnicas na área de exatas, outros o inverso. Há um componente muito pessoal quanto que tipo de dados são mais fácil ou dificilmente memorizados". Borba também concorda que o aprendizado é bastante individual, porém afirma que um bom método é a repetição por meio da escrita e da oratória.
Na opinião de Paula, de um modo geral, é fundamental que o estudante tenha organização no estudo, tempo e espaço. "Cada um tem uma forma de aprender, mas somente assistir a aula não adianta. Alguns alunos estudam ouvindo música, outros com a TV ligada e outros precisam de silêncio. Vai de cada um. Mas o estudo extra-classe é indispensável", relata Paulla Helena.