Cursinho da UEL transforma aulas em oportunidade
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quarta-feira, 09 de agosto de 2017
Lais Taine<br>Reportagem Local
O CEPV (Curso Especial Pré-Vestibular) da UEL (Universidade Estadual em Londrina) está ativo desde 1996 e atende aproximadamente 450 alunos de baixa renda por ano. No último vestibular, chegaram a 117 aprovações. Em 2017, o projeto bateu o recorde de inscrições, com 1.447 interessados, que passaram por avaliação socioeconômica e prova classificatória.
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Segundo a coordenadora do CEPV, Rita de Cássia Rodrigues, a alta procura se deu por diversos fatores. Primeiro, pelos bons resultados obtidos, mas também pelo aumento da divulgação e a atual situação do país. "Com a crise, aumenta a procura. Muitos não podem pagar, não é uma escolha, aqui nós estamos em um barracão, sem ar-condicionado, com carteiras velhas. Se a pessoa pudesse, pagaria a mais pelo conforto", informa.
A dedicação dos alunos também deve ser destacada. Magda Leite de Melo, 42, terminou o ensino médio em 1992. Depois disso, se casou, teve três filhos e não pôde mais estudar. "Hoje meus filhos estão crescidos, além disso, estamos em uma onda de desemprego que assusta, achei que fosse o momento de voltar", explica.
Melo é dona de casa e está fora do mercado há três anos. De manhã se dedica à casa e à família, pega o ônibus e vai para aula à tarde. Além da oportunidade de estudo, ela acredita que o projeto resgatou sua autoestima. "Inicialmente, era um curso preparatório, mas hoje eu vejo que abriu meus horizontes, minha cabeça, me colocou para pensar. Eu vi que ainda há tempo. Não é fácil, mas eu preciso valorizar essa oportunidade", conta.
Assim como a dona de casa, Kennedy da Silva Alves, 19, também acredita na oportunidade que o projeto proporciona. No segundo ano de cursinho, tenta uma vaga em medicina e escolheu a UEL como segunda casa. "Junto ao cursinho, nós criamos um plano pedagógico e eu venho estudar na biblioteca central da UEL na parte da manhã, almoço no RU (Restaurante Universitário), assisto às aulas, volto para a biblioteca à noite para só então ir para casa", conta.
A escolha inicial do estudante pelo CEPV se deu pela condição financeira. Alves não teria como pagar por estudos particulares, mas optou pela continuidade no segundo ano após conhecer o projeto. "Aqui eu tenho bastante contato com os professores e fico mais próximo da UEL, onde tenho muito apoio. Por exemplo, o vestibulando vive ansioso. Se for necessário, eles encaminham para a clínica psicológica da universidade", informa.
Com expectativa de ser aprovado ainda em 2017, Alves pretende dar aula no cursinho quando estiver na graduação. "O projeto é muito importante, as pessoas às vezes não entendem que não é todo mundo que tem condições. Os alunos entram desacreditados aqui, mas saem com outras perspectivas", analisa.
A concorrente de medicina, Laura Nunes, 19, veio de Goiânia (GO) para estudar em Londrina. "Meu foco é UEL, porque a cidade é boa e a universidade é renomada na área", explica. Morando com a irmã, acredita que o CPEV é uma ótima opção para quem não tem condições. "Além disso, muitas pessoas que estudaram aqui e passaram, doam livros para o cursinho e a gente pode pegar", ressalta.
Neste ano, o CEPV está atendendo 258 pessoas em duas turmas à tarde e 279 no período da noite. A média de aprovação é de 35%. Durante as aulas, os alunos possuem frequência monitorada e recebem material de estudos gratuitamente. Com desistências, novos nomes são chamados de acordo com a pontuação na prova de ingresso. As aulas tiveram início em abril e agora os estudantes entram na reta final, já que nesta quinta inicia o prazo de inscrições para o vestibular. As provas estão marcadas para outubro (primeira fase) e dezembro (segunda fase).