"O projeto é muito importante, as pessoas às vezes não entendem que não é todo mundo que tem condições", diz Kennedy da Silva Alves
"O projeto é muito importante, as pessoas às vezes não entendem que não é todo mundo que tem condições", diz Kennedy da Silva Alves



O CEPV (Curso Especial Pré-Vestibular) da UEL (Universidade Estadual em Londrina) está ativo desde 1996 e atende aproximadamente 450 alunos de baixa renda por ano. No último vestibular, chegaram a 117 aprovações. Em 2017, o projeto bateu o recorde de inscrições, com 1.447 interessados, que passaram por avaliação socioeconômica e prova classificatória.

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Segundo a coordenadora do CEPV, Rita de Cássia Rodrigues, a alta procura se deu por diversos fatores. Primeiro, pelos bons resultados obtidos, mas também pelo aumento da divulgação e a atual situação do país. "Com a crise, aumenta a procura. Muitos não podem pagar, não é uma escolha, aqui nós estamos em um barracão, sem ar-condicionado, com carteiras velhas. Se a pessoa pudesse, pagaria a mais pelo conforto", informa.

A dedicação dos alunos também deve ser destacada. Magda Leite de Melo, 42, terminou o ensino médio em 1992. Depois disso, se casou, teve três filhos e não pôde mais estudar. "Hoje meus filhos estão crescidos, além disso, estamos em uma onda de desemprego que assusta, achei que fosse o momento de voltar", explica.

"O cursinho abriu meus horizontes, me colocou para pensar", afirma  Magda Leite de Melo
"O cursinho abriu meus horizontes, me colocou para pensar", afirma Magda Leite de Melo | Foto: Fotos: Ricardo Chicarelli



Melo é dona de casa e está fora do mercado há três anos. De manhã se dedica à casa e à família, pega o ônibus e vai para aula à tarde. Além da oportunidade de estudo, ela acredita que o projeto resgatou sua autoestima. "Inicialmente, era um curso preparatório, mas hoje eu vejo que abriu meus horizontes, minha cabeça, me colocou para pensar. Eu vi que ainda há tempo. Não é fácil, mas eu preciso valorizar essa oportunidade", conta.

Assim como a dona de casa, Kennedy da Silva Alves, 19, também acredita na oportunidade que o projeto proporciona. No segundo ano de cursinho, tenta uma vaga em medicina e escolheu a UEL como segunda casa. "Junto ao cursinho, nós criamos um plano pedagógico e eu venho estudar na biblioteca central da UEL na parte da manhã, almoço no RU (Restaurante Universitário), assisto às aulas, volto para a biblioteca à noite para só então ir para casa", conta.

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A escolha inicial do estudante pelo CEPV se deu pela condição financeira. Alves não teria como pagar por estudos particulares, mas optou pela continuidade no segundo ano após conhecer o projeto. "Aqui eu tenho bastante contato com os professores e fico mais próximo da UEL, onde tenho muito apoio. Por exemplo, o vestibulando vive ansioso. Se for necessário, eles encaminham para a clínica psicológica da universidade", informa.

Com expectativa de ser aprovado ainda em 2017, Alves pretende dar aula no cursinho quando estiver na graduação. "O projeto é muito importante, as pessoas às vezes não entendem que não é todo mundo que tem condições. Os alunos entram desacreditados aqui, mas saem com outras perspectivas", analisa.

A concorrente de medicina, Laura Nunes, 19, veio de Goiânia (GO) para estudar em Londrina. "Meu foco é UEL, porque a cidade é boa e a universidade é renomada na área", explica. Morando com a irmã, acredita que o CPEV é uma ótima opção para quem não tem condições. "Além disso, muitas pessoas que estudaram aqui e passaram, doam livros para o cursinho e a gente pode pegar", ressalta.

Neste ano, o CEPV está atendendo 258 pessoas em duas turmas à tarde e 279 no período da noite. A média de aprovação é de 35%. Durante as aulas, os alunos possuem frequência monitorada e recebem material de estudos gratuitamente. Com desistências, novos nomes são chamados de acordo com a pontuação na prova de ingresso. As aulas tiveram início em abril e agora os estudantes entram na reta final, já que nesta quinta inicia o prazo de inscrições para o vestibular. As provas estão marcadas para outubro (primeira fase) e dezembro (segunda fase).