Curitiba – Mesmo orientadas pelos pais para não falar com estranhos, crianças podem ser alvos fáceis para criminosos, especialmente os psicopatas. Isso porque o julgamento dos pequenos sobre as possíveis situações de risco é diferente da percepção dos adultos. A opinião é da psiquiatra forense Sheila do Carmo Wendler, que atua nos Estados Unidos e está em Curitiba para proferir palestra.
  Sobre o assassinato de Rachel Genofre, 9 anos – encontrada morta dentro de uma mala da Rodoferroviária de Curitiba, dia 5 de novembro –, Sheila observa que os pais eram amorosos e cuidadosos. ‘‘Eles acreditavam que a menina estava bem orientada para não falar com estranhos, para não se colocar em situação perigosa, e que isso era suficiente. Mas não sabiam que o julgamento de uma criança de 9 anos sobre o que é certo ou errado, sobre o que representa risco ou algo potencialmente perigoso, é fruto da mente de uma criança. Uma menina de 9 anos não pensa como adulto.’’
  Daryl e Sheila são professores universitários e consultores respeitados em sua área. Freqüentemente são contratados por advogados para atuar em julgamentos criminais. Sheila, curitibana formada pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR), fez residência em universidade texana, e vive nos EUA há mais de 15 anos.
  Sheila e o marido, o norte-americano Daryl Matthews – também psiquiatra forense –, participam de um evento hoje, às 8 horas, no Salão Nobre do Hospital Nossa Senhora da Luz, que é aberto ao público. Sheila explicará um estudo de caso clínico bastante emblemático: a mãe americana que matou os cinco filhos. Depois, a partir de 10h30, Matthews fala sobre Violência e Doença Mental.
Uso de drogas
  Casos de mães que matam os próprios filhos são chocantes. Mas não são poucos, levando em conta a quantidade de crimes que vêm a público, por exemplo, de bebês recém-nascidos assassinados ou abandonados para morrer, e de criancas mortas por negligência ou abusos. Os estudos da especialista Sheila ajudam a orientar a polícia na busca por suspeitos.
  De acordo com a psiquiatra, mães solteiras e de baixa renda são maioria, como autoras, nos casos de assassinato de recém-nascidos com até 24 horas de vida. Já durante o primeiro ano da crianca, a mãe assassina pode ser afetada pela depressão pós-parto. Mas há outros fatores de influência. Negligência no cuidado com os filhos é um deles. O aumento do uso de drogas baratas e poderosas – nos EUA é o ‘‘meth’’, a metanfetamina, enquanto no Brasil é o crack – deve ser levado em conta, diz Sheila.
  Já nos casos de assassinatos de crianças com até 12 anos, a suspeita inicial sempre recai sobre os pais, diz a médica: ‘‘Dentro dessa faixa etária, os primeiros a ser investigados pela polícia são os pais, por estranho que possa parecer’’. Ela explica que este procedimento, adotado pela polícia norte-americana, não é opinativo, e sim resultante de acompanhamentos e estatísticas. E costuma ser eficiente.