Isabele Papafanurakis Ferreira Noronha, juíza: "Os pais passam por todo o processo de habilitação"
Isabele Papafanurakis Ferreira Noronha, juíza: "Os pais passam por todo o processo de habilitação" | Foto: Gustavo Carneiro



Uma das oito crianças com necessidades especiais ou doenças crônicas à espera de adoção em Londrina é uma menina de 10 anos. Ela tem deficiência auditiva e uma irmã de 9 anos, a quem é muito ligada. As duas já passaram por uma tentativa de adoção, que foi malsucedida e as garotas acabaram retornando ao abrigo de acolhimento. A assistente social do Instituto Londrinense de Educação para Crianças Excepcionais (Ilece), Gláucia Maria Machado Sorgi, recorda de um caso semelhante. "A criança foi devolvida duas vezes. Na última ela nem quis desfazer as malas e ficou esperando que os pais adotivos a levassem de volta para casa", relembra. Ela ressalta que essa situação é devastadora para a cabeça da criança. "Tem que ser uma adoção extremamente consciente. A criança devolvida sofre uma rejeição a mais na vida", aponta.
A juíza substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Londrina, Isabele Papafanurakis Ferreira Noronha, destaca os problemas emocionais que podem causar na criança quando ela é adotada e depois devolvida. "Os pais passaram por todo o processo de habilitação, decidem adotar e depois afirmam que querem devolver a criança? Não é assim que funciona", aponta.
Segundo a psicóloga do Núcleo de Apoio Especializado à Criança e ao Adolescente (NAE) da Comarca de Londrina, Tallita Lopes Fenato, para adotar uma criança com necessidades especiais há um período de avaliação dos candidatos a pais. O objetivo é analisar se cumprem todas as exigências e se possuem o perfil necessário para isso. Ela explica que é preciso ter cuidado porque a adoção envolve tanto a expectativa dos pretendentes a adotar com a do desejo da criança. "Os dois lados começam a criar uma imagem ideal de como será essa relação e quanto mais se idealiza, mais pode se criar uma frustração", aponta.
Tallita explica que o processo de habilitação de adoção é realizado na comarca em que a pessoa reside. "A pessoa deve ir à Vara de Infância e Juventude e o cartório informa a documentação necessária. Ela é submetida à avaliação técnica e um curso é ministrado aos candidatos a pais adotivos a cada 6 meses. O recomendável é quem está pensando em adotar conheça mais grupos de adoção, tenha contato com pessoas que já realizaram a adoção e tenha contato com livros e sites sobre o assunto", aconselha.
A psicóloga ressalta que o NAE estimula os candidatos a ter contato com as crianças nas instituições de acolhimento. "A gente faz esse encaminhamento para essas instituições para que a pessoa possa ter a noção se essa realidade tem a ver com que ela está esperando. Se tudo correr bem, quando sair a sentença, ela fica inscrita no Cadastro Nacional de Adoção", explica.
Segundo a médica neuropediatra atuante no Ilece, Maria José Fabre, independente de as mães serem adotivas ou não, o importante é criar com amor. "As mães em geral são dedicadas, independentemente se seus filhos possuem necessidades especiais ou não. Todos os filhos dão trabalho, seja ele especial ou não", argumenta.