No dia 2 de abril comemora-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo,
um transtorno que não tem cara e nem forma física, mas sim características comportamentais. A síndrome atinge em média 0,6% da população e ocorre em quatro meninos para cada menina. O isolamento é uma das características do transtorno, mas não é a única, como explicou o neuropediatra Clay Brites, coordenador do Núcleo Londrina da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins. ''Toda criança com autismo tem as três características: inadequação social, comportamentos repetitivos e atraso de linguagem''.
Os sintomas aparecem antes dos três anos de idade; assim, os pais devem ficar atentos. ''Quando a criança não consegue manter este contato com outra criança ou com os próprios pais deve-se desconfiar de autismo. Outro sintoma é se em um ambiente com outras crianças existe uma que brinca sozinha com um objeto de interesse ou vai para junto das outras crianças, mas só fica correndo em volta, sem interagir com as demais'', observa. Brites acrescenta que um terceiro sinal clássico é o atraso na linguagem. ''O autista demora para falar ou apresenta uma regressão súbita na linguagem antes dos três anos.''
Segundo o médico, a fase entre um ano e três meses e três anos é a mais crítica. ''Autismo é alteração no desenvolvimento. Por algum motivo a criança não atinge a fase adequada para interagir socialmente'', explica, acrescentando que entre os autistas também é comum a resistência a mudanças. ''Eles criam rotinas compulsivas e se interessam apenas por aquela experiência.''
Conforme Brites, o transtorno tem natureza neurogenética, mas não há uma explicação cientificamente convincente que esclareça por que é mais comum entre os meninos. Tem mais chances de apresentar o problema as crianças que nascem prematuras e aquelas que possuem outras síndromes genéticas.
Informação
O diagnóstico é considerado a principal dificuldade do enfrentamento da doença. ''Muitos profissionais não reconhecem o autismo, entre eles pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e professores. Faltam informação, especialização e atualização para estas pessoas, precisamos criar uma cultura de detecção precoce'', alerta.
Aceitar o autismo não é fácil para as famílias. ''O diagnóstico precoce é fundamental para a qualidade de vida desta família. Se ele for feito depois dos cinco anos, muito pouco se pode fazer para melhorar a adequação social e a linguagem da criança'', afirma Brites. ''A criança que nasce com autismo vai morrer assim, mas se houver diagnóstico precoce ela pode melhorar 99%'', ressalta.
De acordo com o neuropediatra, o que falta para melhorar a relação do autista com a sociedade é informação. ''No Brasil não há estatísticas confiáveis sobre autismo. Precisamos criar estratégias de intervenção em política pública'', desta. Há um projeto de lei em discussão no Senado que institui a proteção dos direitos do indivíduo com autismo.
''A primeira proteção que o autista precisa é o atendimento precoce. Os profissionais das unidades de saúde devem ser preparados para identificar a síndrome. Também é preciso investir e melhorar a formação do pediatra, fonoaudiólogo, psicólogo, do cuidador de creche e do professor.''