As cooperativas de coletores de lixo reciclável dependem dos lucros para torná-las sustentáveis, mas a falta de capacitação dos associados é um limitador para exercer um gerenciamento eficaz. Isso acontece porque a maioria deles tem apenas o Ensino Fundamental, enquanto o modelo de negócios exige uma formação mais completa para lidar com planilhas de controle de gastos e de venda de material, balanço do estoque e interpretação dos documentos rotineiros.
Para capacitar melhor os cooperados, a diretoria da Cooper Região firmou parceria com a CGD Sistema de Ensino. Vinte e um cooperados e funcionários da cooperativa fazem o curso de Informática Básica, que inclui aulas de programas de planilha eletrônica, processador de texto e sistema operacional, e parte da mensalidade subsidiada pela escola. Após a conclusão desse curso, a escola oferecerá gratuitamente curso de assistente administrativo, que inclui noções de secretariado, administração, contabilidade, departamento pessoal e telemarketing.
A diretora da Cooper Região, Érika Salles Lino, destacou que com a capacitação será possível realizar um controle de gastos e vendas melhor e mais rápido. "Para fazer um fechamento de vendas normalmente levamos mais de uma hora para concluir, mas com a planilha eletrônica isso pode ser feito na hora", destacou. Ela relatou que a negociação com a escola de informática durou dois meses e que o desconto obtido foi bastante acessível, sem citar números.
O objetivo é que todos os 240 cooperados passem pela capacitação. "Estamos implantando softwares de gerenciamento e precisamos saber lidar com isso, caso contrário teremos que contratar pessoas e isso aumentaria o nosso custo", destacou.
Uma das coletoras que está frequentando as aulas é Simone Cardoso, de 36 anos, que chegou a garimpar materiais no antigo Lixão, na zona leste. Ela relembra que naquela época o que conseguia de dinheiro com a venda dos recicláveis mal dava para a alimentação, mas agora a média salarial é de R$ 1.670. "Uma cooperativa é uma linha de produção e quanto mais uma pessoa produzir, mais vai receber. Com a informatização poderemos aprimorar ainda mais o nosso trabalho e aumentar ainda mais o nosso lucro", projetou.
Segundo a coordenadora da área comercial e de marketing da CGD, Edra Moraes, esse processo de informatização de diversas áreas é irreversível. Ela destacou que até as portarias hoje estão informatizadas e que pessoas sem qualificação tendem cada vez mais ter dificuldades de obter um emprego.

Voluntários
A presidente da Cooperativa dos Profissionais de Reciclagem de Londrina (Coocepeve), Sandra Araújo Barroso da Silva, reconhece que o modelo de cooperativa exige essa qualificação. Ela ressaltou que essa capacitação facilitaria até uma transição da diretoria, já que muitos deixam de se candidatar por medo de não ter a qualificação necessária para o cargo. No entanto, ainda não encontrou uma alternativa de capacitar todos os associados.
Sandra expôs também que uma cooperativa possui gastos muito altos e, por isso, é necessário um controle bem feito. "Nós relutamos em criar uma cooperativa justamente porque queríamos que os associados recebessem cursos de capacitação para gerir o negócio antes de assumir a responsabilidade", destacou Sandra, ressaltando que até alguns anos atrás alguns deles estavam garimpando material reciclável no antigo lixão que ficava na Estrada do Limoeiro, na zona leste.
O coordenador da Coocepeve, Marcos Aurélio da Silva, informou que a cooperativa possui 100 coletores contra os 300 que existiam antes da transição de associação para cooperativa. Na sua opinião, voluntários poderiam ministrar esses cursos para todos e não apenas aos membros da diretoria, por exemplo. "É preciso reconhecer a importância de cada associado. A realização de cursos de capacitação para cada um de nós ajudará na evolução da própria cooperativa", ressaltou.

O diretor de operações da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Gilmar Domingues, disse por meio da assessoria de imprensa, que tem se reunido com representantes das cooperativas com o objetivo de definir com os recicladores sobre o processo de profissionalização.

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