Moradores do Jardim São Jorge reclamam que todo tipo de lixo é deixado no local
Moradores do Jardim São Jorge reclamam que todo tipo de lixo é deixado no local | Foto: Saulo Ohara



O município de Londrina ainda não encontrou uma solução definitiva para resolver o problema do descarte irregular de lixo. Em bairros como o Jardim São Jorge, na zona norte, é possível ver entulho nas vias. O descarte irregular chega a invadir e interditar parcialmente a rua Maria Inês Leonel Oliveira.

Por causa dos entulhos e lixo nas proximidades, a merendeira aposentada Maria Cândida Henrique Diniz relata que já tentou vender a casa. "Tem muito mosquito e muito rato por causa do lixo. E também jogam muitos animais mortos", reclama, citando que também é possível ver aparelhos eletrônicos e entulho de construção, como vaso sanitário e restos de obras. "Quem descarta chega aqui de todos os jeitos: de carroça, de caminhonete, de carro", observa.

"Deveria ter um PEV (Ponto de Entrega Voluntária) aqui para o pessoal jogar essa sujeira. Esse lixo aumenta o número de insetos e outros bichos aqui", reclama o pedreiro Edivaldo Batista, que mora no São Jorge.

Na realidade há um PEV em um bairro próximo dali, no Residencial Vista Bela, mas muitas pessoas sequer sabem da sua existência. Maria Cândida Diniz, por exemplo, só soube da existência do PEV pela reportagem, o que demonstra que há a necessidade de melhorar a divulgação do espaço.

O PEV é apenas uma das medidas criadas pela CMTU (Companhia Municipal de Transporte e Urbanização) nos últimos anos para tentar resolver o problema do descarte irregular. O PEV veio para substituir o ecoponto, criado para receber o material já classificado, no entanto os espaços determinados na época acabaram se tornando lixões sem nenhum tipo de separação.

O projeto do Ecoponto naufragou porque as áreas não foram delimitadas e não havia um funcionário para orientar o descarte da forma correta, problema que o PEV corrigiu com a manutenção de um funcionário no horário de expediente. No entanto, são apenas dois pontos para atender uma cidade com quase 600 mil habitantes.

O presidente da CMTU, Moacir Sgarioni, informa que o objetivo da companhia é criar mais seis PEV, quatro deles até o fim de 2017. Ele ressalta, porém, que a instalação desses espaços esbarra na dificuldade de liberação de locais adequados e dentro das exigências da legislação ambiental. "Vamos implementar um conceito de PEV mais organizado, com portaria, banheiros, módulo cercado. Vamos estabelecer parcerias com ONGs como a E-Lixo e cooperativas de recicladores, que poderão explorar esse ponto. Se forem entregues madeiras, elas poderão ser comercializadas", exemplifica.

Equipes da CMTU têm realizado limpeza e remoção de lixo, para tentar coibir o descarte irregular. Um deles é na rua Francisco Ruiz, ao lado do Colégio Estadual Professora Ubedulha de Oliveira, no conjunto Luiz de Sá (zona norte).

Foram retirados 17 caminhões de entulho, mas não se sabe por quanto tempo o local permanecerá limpo. A diretora do colégio, Mônica Matos Ricardo, relata que o problema é endêmico e mesmo com a limpeza a preocupação é grande. "Aqui tem placa avisando que tem vigilância, mas não tem câmera. Esse problema é cultural e aqui continua vindo pessoal de tudo quanto é canto", reclama. Antes da limpeza a sujeira tinha tomado uma proporção tão grande a ponto de as pessoas precisarem circular no meio da rua, porque as calçadas estavam todas tomadas pelo lixo.

REDUÇÃO
Segundo a CMTU, o número de pontos de descarte irregular foi reduzido para 58 locais – em 2016 chegou-se a falar em 200 pontos. Sgarioni aponta que em 2016 foram removidos pela companhia 44 mil metros cúbicos de lixo e desse total cerca de 20 mil metros cúbicos foram de entulho. "Este ano já foram removidos 16 mil metros cúbicos de entulho, om equivalente a 1.550 caminhões", contabiliza.

O presidente da CMTU aponta que no último fim de semana foram apreendidos dois veículos por meio de diligência com carro não plotado. "Os servidores estavam só com crachás de identificação. Essa fiscalização tem sido realizada em diferentes regiões da cidade", garante, informando que a companhia realiza uma licitação para contratar uma empresa que opere um guincho plataforma e que possua um barracão para guardar os veículos. "Essa empresa iria operar não só para isso, mas para atender todo o sistema da CMTU de veículos apreendidos em blitz, carros sucateados abandonados em espaços públicos."

Em Londrina, a legislação prevê multa a quem joga detritos em bueiros, terrenos vazios, fundos de vale, ruas e outros logradouros. Quem for flagrado pela fiscalização está sujeito à autuação que pode chegar a R$ 3 mil. Se for constatado crime ambiental, a multa pode chegar à casa dos milhões. Denúncias de descarte irregular podem ser feitas à CMTU, pelo telefone (43) 3379-7900, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h. Nos fins de semana e feriados pelo fone 99992-1276, 9948-4339 ou 99994-1470.

'Reaproveitamento não é tão simples'
Segundo o presidente da CMTU, Moacir Sgarioni, a solução para o reaproveitamento de entulho não é tão simples. "Fomos visitar algumas empresas e constatamos que o entulho já classificado custaria R$ 13 o metro cúbico para entregar lá na empresa", explica. "Acredito que a prefeitura teria de colocar em uma lei a obrigatoriedade do uso de um percentual desse material reciclado nas obras para ver se avança nessa questão. Esse material poderia ser utilizado na construção de calçadas e no contrapiso das obras."

A Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos de Construção Civil e Demolição (Abrecon) estima que o Brasil joga fora R$ 8 bilhões ao ano porque não recicla seus produtos. Os números indicam que 60% do lixo sólido das cidades são oriundos da construção civil e 70% desse total poderiam ser reutilizados. Em média 50% de todo o material é desperdiçado, o que representa por volta de 850 mil toneladas de entulho por mês depositado sem critério em lixões ou aterros sanitários.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já interferiu nesse assunto para assegurar sua utilização nas construções civis. Atualmente, o Brasil conta com 130 usinas de reciclagem de entulho, grande parte na região Sudeste. O ideal seriam mil delas.

Entre 1994 e 1998 Londrina já teve uma usina de moagem de entulho, que foi implementada com o objetivo de livrar a cidade desse material que continua sendo descartado em fundos de vale. A usina moía os tijolos e pedaços de concreto e os transformava em blocos de alvenaria, pedriscos, areia e pisos para calçamento.(V.O.)