As crianças passam pelo menos um período do dia na biblioteca, onde têm à disposição livros, computadores e jogos pedagógicos
As crianças passam pelo menos um período do dia na biblioteca, onde têm à disposição livros, computadores e jogos pedagógicos | Foto: Fotos: Saulo Ohara



O Residencial Vista Bela (zona norte de Londrina) foi entregue em 2011 e para lá se mudaram 12 mil pessoas. Hoje, já são 18 mil habitantes vivendo no bairro, população superior a mais de 50 municípios paranaenses. No entanto, o segundo maior projeto do Programa Minha Casa Minha Vida executado no País não dispõe de quase nenhuma infraestrutura para atender as necessidades da população. No local há apenas um Centro Municipal de Educação Infantil e o posto de saúde fica no Conjunto Padovani, bairro vizinho. Tanto quanto a carência material, a comunidade sofre também de carência social. As poucas ações para reduzir a precariedade dos serviços são iniciativas dos próprios moradores que conhecem bem as necessidades do Vista Bela e decidem arregaçar as mangas e mudar a realidade sem esperar pelo poder público.

Uma dessas iniciativas é a Biblioteca Solidária do Conjunto Vista Bela, criada em junho de 2016 por Joseleide Aparecida de Oliveira Baptistella. Sem nenhuma formação na área – Joseleide só estudou até a quinta série do ensino fundamental -, mas ciente da importância dos livros na construção do futuro das crianças, ela percebeu a dificuldade dos pais de preencher as horas livres de seus filhos e oferece atividades no período do contraturno escolar. A biblioteca começou com 1,4 mil livros arrecadados em doações, um computador, duas meses e seis cadeiras, em uma casa alugada de 38 metros quadrados. Diariamente, cerca de 20 crianças eram atendidas.

Em seis meses, o acervo foi ampliado para 6 mil títulos e o projeto foi transferido para a casa ao lado, de 54 metros quadrados, com um amplo quintal e varanda coberta. Hoje, a biblioteca também dispõe de sala de informática com cinco computadores e jogos pedagógicos e 138 crianças estão cadastradas e passam pelo menos um período do dia no local. Lá, elas leem, têm aulas de reforço, participam de atividades recreativas e recebem lanche. Muitas vezes, a única refeição do dia.

"Quando eu decidi montar a biblioteca, os moradores não me incentivavam. Diziam que o pessoal daqui não queria saber de livro, só de boné e tênis de marca. Hoje eu digo que loucos são eles que não enxergaram isso antes. O que as crianças querem é educação. Elas têm muita vontade de conhecer coisas novas e aqui está sempre cheio", afirmou a coordenadora. Entre as crianças a partir dos 5 anos de idade, há oito alunos especiais, um deles, já adulto, com 32 anos de idade e que tem como única opção de atividade a biblioteca coordenada por Joseleide. "Você já mora em um lugar que é taxado como violento. Se deixar só para o poder público, não funciona porque os problemas de Londrina não se resumem ao Vista Bela. Decidi deixar de ser conivente com o que via de errado, parei de reclamar e resolvi agir."

Além da coordenadora, o projeto conta com a colaboração de uma pedagoga, responsável pelas aulas de reforço escolar, e uma música, que oferece aulas de canto aos pequenos e já formou até um coral. Mas apenas o trabalho voluntário dos simpatizantes do projeto não tem sido suficiente. Manter o local funcionando tem custos e a cada mês tem sido mais difícil fechar as contas no azul.

O projeto tem uma despesa mensal de R$ 1,2 mil, sendo R$ 550 apenas para o aluguel do imóvel e todo o dinheiro vem de doações. "Neste mês estamos com R$ 160. Está muito longe do que eu preciso", disse Joseleide.

Para reforçar o caixa, a coordenadora organiza bazares, realiza promoções e corre atrás de pessoas que possam oferecer todo tipo de ajuda, não apenas financeira. No momento, estão sendo vendidas cotas de uma rifa na qual será sorteada uma bicicleta nova doada pelo Colégio Estadual Marcelino Champagnat. "Temos que vender logo essa rifa porque vai ser o que vai me salvar no mês. No ano passado fizemos um bazar com peças que recebemos de doações, mas estamos em um bairro carente. Vendemos as peças por R$ 1 ou R$ 2. Conseguimos arrecadar R$ 233. Queremos fazer uma mini quadra no quintal para que as crianças tenham mais espaço para as atividades. Já temos o cimento, faltam a areia e a pedra. Até conseguimos a doação de areia, mas perdemos porque não tínhamos como ir buscar. Tudo é muito difícil", lamentou a coordenadora, que espera para fevereiro a documentação para que o projeto seja reconhecido como pessoa jurídica, o que irá facilitar a captação de recursos.

SERVIÇO
A Biblioteca Solidária do Residencial Vista Bela fica na Rua Elaine Aparecida Bonalumi Cezário Pereira, 266. Quem quiser colaborar com a manutenção do projeto pode entrar em contato com Joseleide pelo telefone (43) 3338-7639 ou 99650-1101.