Temas foram debatidos nesta quarta, com a realização do evento Diversidade e Desigualdades
Temas foram debatidos nesta quarta, com a realização do evento Diversidade e Desigualdades | Foto: Gina Mardones



Mesmo com todo o debate e o fácil acesso a informações, o ambiente acadêmico não está livre das mais variadas formas de assédio - moral, psicológico e sexual. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), as tentativas de se coibir as práticas violentas de recepção aos calouros têm reduzido as ações que expõem os recém-chegados à instituição a humilhações e constrangimentos, mas eles ainda acontecem. Casos de assédio sexual também foram denunciados por alunas do Centro Acadêmico de História, que durante o recesso procuraram o colegiado do curso para pedir providências. Um dos resultados das denúncias, que pouco a pouco começam a ganhar voz, foi a realização do evento "Diversidades e Desigualdades: gênero e questões étnico-raciais: interfaces com a permanência estudantil na UEL", realizado nesta quarta-feira (19), no anfiteatro maior do Centro de Ciências Humanas.

"Nós recebemos e-mail de alunas do CA para denunciar assédio que as alunas estariam sofrendo dentro do curso e da UEL. Quando retornamos do recesso, fizemos uma reunião com o chefe do departamento, o diretor de centro, a coordenação de colegiado, ouvimos as denúncias e a partir daí foi desencadeada uma discussão com o Sebec (Serviço de Bem-Estar à Comunidade), o Neab (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros), o Prope (Programa de Apoio à Permanência), a Prograd (Pró-reitoria de Graduação) e outras instâncias da universidade no sentido de rever as nossas políticas de prevenção à violência durante a recepção aos calouros", explicou o coordenador de colegiado do curso de História, José Miguel Arias Neto.

A partir das denúncias, foi criada uma comissão permanente de prevenção à violência dentro do Departamento de História e, além do evento no CCH, ao longo de todo o ano será desenvolvida uma série de ações com o objetivo não apenas de coibir as violências, mas também de criar um ambiente que contribua para romper o ciclo de silêncio. "O ciclo de silêncio mantém a impunidade", ressaltou Arias. "A gente começou na semana de recepção aos estudante, mas isso vai ser um trabalho permanente da comissão porque são várias violências que estão presentes e são cotidianas e continuadas e às vezes não são só os estudantes que sofrem assédio e violência, mas também os funcionários e docentes."

DEBATES
Pela manhã e à noite, o evento reuniu em mesas-redondas docentes dos cursos de Ciências Sociais, Pedagogia, Física, História e Serviço Social nas quais o foco dos debates foram a diversidade, as ações de acolhimento e as políticas de permanência de alunos cotistas, afrodescendentes e indígenas, na universidade.

Os temas também foram tratados em grupos de trabalho que aconteceram durante toda a tarde. "Nosso foco é pensar maneiras coletivas de respeito à diversidade e, fazendo isso, reduzir as situações de preconceito, discriminação, desigualdade e violência", disse a professora do curso de Ciências Sociais, Angela Maria de Sousa Lima.

"Tratamos a problemática da permanência de alguns alunos na universidade, especificamente aqueles que entram pelas cotas, mas também estamos trazendo para essa discussão a violência e o preconceito em relação à população universitária LGBT, a temática do assédio sexual, estupro, assédio moral e psicológico, que infelizmente são tipos de violência que também estão presentes na universidade", destacou a presidente da Comissão de Prevenção à Violência do curso de História, Edmeia Aparecida Ribeiro.

A professora enfatizou que o trabalho da comissão não é pautado pelo julgamento, mas visa a conscientização e prevenção da violência. "Estamos percebendo que desde segunda-feira várias pessoas estão se envolvendo, entrando em contato com esse tipo de informação. Às vezes a pessoa pode ter sofrido assédio e nem ter percebido. Há como resultado o incômodo, a tristeza, mas ela não se percebe como vítima."

AÇÕES COLETIVAS
"No cotidiano a gente vê que é difícil estar dentro da universidade, onde a maioria das pessoas é branca. A gente sofre com racismo, a gente sofre com o mais sutil, que é o racismo velado, as pessoas tentando elogiar e ofendendo ao mesmo tempo. Sempre aconteceu, desde quando eu entrei na universidade, e vai continuar acontecendo. Enquanto eu existir vai existir o racismo e eu vou passar por situações de constrangimento", disse a aluna do terceiro ano de Ciências Sociais, Paloma Pereira. Ela aponta a criação de coletivos como uma forma de construir alguma mudança sem depender do apoio institucional.

Estudante do terceiro ano de Ciências Sociais, estagiária do Prope e militante do Levante Popular da Juventude, Tainara Assis ressaltou a importância do evento para informar os alunos, especialmente os calouros, e promover o empoderamento desses alunos para que sejam capazes de lutar contra qualquer forma de violência. "Quando a gente para para pensar que quando entra (na universidade) a gente não consegue identificar essas agressões, é exatamente por falta de informação. Porém, às vezes eu tenho o sentimento de 'chover no molhado' porque muita gente que está aqui ouvindo são pessoas que já têm o debate. Seria interessante que a gente conseguisse expandir as discussões."

Sobre as políticas de permanência, Tainara defende que essa questão seja amplamente discutida ao longo deste ano. "No final do semestre passado a gente aprovou 45% das vagas da UEL para cotistas, sendo 25% para cotistas negros, só que a gente já tem um problema com o aumento do RU (Restaurante Universitário), tem o problema com o passe livre e aí, como é que faz? A gente avança, no acesso, mas a permanência nunca avança."