Londrina - Teve início em 1898, tacitamente, a alternância de São Paulo e Minas Gerais no poder, mas quando o governador mineiro Antônio Carlos Andrada se preparava para ser o candidato da vez em 1930, o presidente da República, Washington Luís de Sousa, indicou outro paulista à sucessão, Júlio Prestes.
Em xeque a "política do café com leite" – o revezamento de paulistas e mineiros –, Antônio Carlos estimulou os gaúchos, aproximando-se de Getúlio Vargas, origem da Aliança Liberal. Com Vargas para presidente e o paraibano João Pessoa de vice, a chapa recebe menos de 700 mil votos em 1º de março de 1930 e Júlio Prestes, mais de um milhão. Os perdedores alegam a tradição brasileira: eleições viciadas, fraudulentas. Evidentemente, até no Rio Grande do Sul houve fraude: apenas 982 votos para Prestes e 298 mil para Vargas.
"Sabíamos que à nossa frente somente se abriam dois caminhos: a adesão ao vencedor ou a revolução" sentenciou João Neves. Estopim da revolução: o assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, embora não tivesse nada a ver com a derrota eleitoral. Na presidência do Estado, Pessoa mandou a polícia invadir a casa do jornalista João Dantas, que lhe fazia oposição. E deu notícia da correspondência amorosa de Dantas, informando que as cartas ficariam expostas no salão do jornal A União. "O desgraçado que fez isso vai morrer!", reagiu Dantas. E cumpriu a promessa, aproveitando a presença do governador em Recife.
O crime motivou revoltas populares e serviu à exploração política, que renderia adesões à revolução.

Desfecho da ação
"Um fogo vivo de fuzilaria e metralhadoras, uns vinte minutos de luta e foi tomado o quartel-general, presos o comandante da Região e seu estado-maior", relata Getúlio Vargas, em seu diário (*), o início da revolução em Porto Alegre. Num "assalto por guardas civis e populares capitaneados por Osvaldo Aranha, Flores da Cunha e Adalberto Correia. Foi um lance épico."
Sucedem-se os levantes em Minas Gerais e no Nordeste; os gaúchos avançam por Santa Catarina. No dia 5 "uma boa notícia: a adesão da 5ª Região Militar, Curitiba", conforme telegrama do major Plínio Tourinho, "meu antigo condiscípulo da Escola Militar", anota. E Getúlio manda "acelerar a remessa de tropas selecionadas" para o Paraná, principalmente para "apressar o desfecho da ação, que se desenhava evidente, pelo choque com as tropas do governo nesse estado ou em São Paulo".
A primeira vitória importante ocorre próximo a Jacarezinho após cinco horas de fogo e muitas perdas do inimigo, que se retirou para Carlópolis. A 17, o trem conduzindo Getúlio chega a Ponta Grossa e sucedem-se vitórias em Jaguariaíva, Quatiguá e Sengés.
Mas o confronto previsto para Itararé não ocorre. Washington Luís fora convencido a renunciar à presidência e no dia 24 assumiu a junta governativa chefiada pelo general Tasso Fragoso.
"Itararé, a batalha que não houve" ficou na história. (W.S.)

(*) Getulio Vargas – Diário Volume I, 1930-1936. Organizado por Celina Vargas A. Peixoto —Sciciliano/FGV – 1995.