A voz é ainda de uma menina, assim como o sorriso e cada gesto. Quem vê Suellen de Carmo, de 19 anos, esbanjando saúde e com um bom humor contagiante ao falar da aprovação no vestibular, nem imagina todas as dificuldades que a garota teve de enfrentar. Três anos após perder o pai, vítima de um câncer no intestino, e quase quatro meses após a sua última sessão de quimioterapia para o tratamento de um câncer no ovário, ela comemora a aprovação em 8º lugar no curso de Relações Públicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E já planeja o início de seu trabalho voluntário na ONG Viver.
"Não quero perder um minuto da minha vida. Meu desejo é me dedicar à concretização de cada sonho, terminar a faculdade, prestar concursos, aproveitar a companhia da minha família, amigos e ajudar outras pessoas que estão passando pela mesmo situação que eu passei", conta a futura caloura, com um intenso brilho nos olhos.
Hoje, o clima é de alegria para a jovem caçula de três irmãos, mas Suellen lembra que o caminho percorrido não foi nada fácil. Um ano e meio após a morte do pai, no primeiro semestre de 2011, a garota foi diagnosticada com a doença no ovário. E o pior, com um tumor já em um estágio avançado.
"Eu passei a sentir cólicas terríveis e sem explicação. Foi aí que eu procurei um ginecologista ele me disse que eu tinha um tumor, até então benigno. Fiz a cirurgia e me encaminharam para um oncologista", lembra. "Nesse momento é que eu descobri que estava com câncer e que teria de iniciar as sessões de quimioterapia. Como meu pai já tinha falecido com a mesma doença, fiquei assustada, sem chão, mas me apeguei a Deus."
Foram três meses de sessões diárias. A dona de casa, Ilda do Carmo, mãe da jovem, lembra que a Suellen passava cerca de cinco horas no hospital, não tinha disposição para nada, sentia enjoos quase o tempo todo e as refeições eram sempre uma tortura.
"Eu olhava para comida e não conseguia comer. A única coisa que descia eram morangos por serem um pouco azedo", detalha, lembrando que, nesse período já começava a cair todo seu cabelo. "Como qualquer menina na minha idade, eu era muito vaidosa e sofri um bocado por ficar careca. Tive que deixar a vaidade de lado e, como forma de me apoiar, meu irmão ficou careca também."
Apesar de todo sofrimento, a vontade de viver e o desejo de dar continuidade à concretização de seus sonhos eram maiores e ela seguiu em frente. "Havia dias em que eu chegava na ONG e só tinha vontade de deitar e dormir. Em outros momentos conseguia ler alguma coisa e aproveitava para estudar o máximo que podia", conta, acrescentando a sensação de acolhimento que teve ao passar os dias na entidade, que atende crianças e adolescentes vítimas de câncer. "Aqui eu fiz muitos amigos, me divertia de verdade e acabava esquecendo um pouco o momento de dor."
Foi somente no mês de setembro do ano passado, após finalizar todo o tratamento de quimioterapia que Suellen passou a ter forças para dedicar várias horas de seu dia ao estudo. "Peguei firme nos livros e, com a fé em Deus e o apoio de minha família, coloquei na minha cabeça que eu conseguiria", destaca.
"Deu certo. Hoje, estou muito feliz. Quando olho para trás e vejo tudo o que passou, me dou conta do tamanho da força que Deus me deu. Cada conquista minha foi presente dele", sorri orgulhosa.

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