"É o amor que nos motiva a querer continuar a lutar", afirma Clarissa Peres Sanches, fundadora da ONG
"É o amor que nos motiva a querer continuar a lutar", afirma Clarissa Peres Sanches, fundadora da ONG | Foto: Fotos: Anderson Coelho



O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu em um dos versos de "Soneto a quatro mãos" que "do nada em mim o amor fez o infinito". Assim como nas palavras dele, é este sentimento que move a ONG Tok de Amor, que desde 2013 atende pessoas com câncer e suas famílias, oferecendo acolhimento e apoio para quem possui a doença, além de conscientizar sobre a importância da prevenção.

A instituição, que fica a 130 metros do Hospital do Câncer de Londrina, funciona de segunda a sexta-feira, em horário comercial. No local são oferecidos diversas oficinas, como crochê, bordado e música, e lanche para os pacientes que esperam por atendimento na unidade de saúde e seus acompanhantes. Além disso, são disponibilizadas camas para descanso. O trabalho também contempla a entrega de cestas básicas para pessoas mais carentes que estão em tratamento.

A história da ONG começou a partir da experiência de sua fundadora, Clarissa Peres Sanches, que em 2012 foi diagnosticada com câncer de mama. "Depois da cirurgia para retirar o quadrante, veio um impasse sobre meu tratamento. Como morei em São Paulo antes de me mudar para cá, e ainda tenho família lá, acabei iniciando o tratamento na cidade, com a quimioterapia e radioterapia", relembra. "No hospital que fui atendida tive ações muito boas e que me ajudaram à enfrentar a doença. Eram várias oficinais e nestes momentos via que não estava só", conta.

Quando retornou a Londrina, Sanches foi procurada por algumas mulheres que queriam auxílio no tratamento do câncer. "Muitas tinham parado de trabalhar por conta da doença e comecei a buscar ajuda para elas. Um dia uma pessoa depositou um dinheiro na minha conta para repassar a uma mulher em específico e isso me deixou desconcertada. Chamei meu marido e decidimos oficializar as doações por meio de uma ONG", relata. No início, os acolhimentos aconteciam em sua casa.

Depois de entrar para o grupo da capelania do hospital, ela viu outras demandas dos pacientes, como um lugar adequado para eles e seus familiares. Com isso, Clarissa e o marido Sérgio buscaram um outro espaço e alugaram uma casa na rua Silvio Pegoraro. "Pegava as roupas de acompanhantes que estavam muito tempo fora das cidades deles, lavava e devolvia. Os levava para passear para criarem forças. Os pacientes terminais que tinham vontade de comer ou beber alguma coisa eu comprava, com a autorização do médico", elenca.

FORÇA
A sede própria passou por reformas e foi inaugurada no final de 2016. Desde então, o número de pessoas que buscam a Tok de Amor vem aumentando. Atualmente, são 100 atendimentos diários e 600 cadastros, entre homens e mulheres. As oficinas que são ofertadas são usadas como fonte de renda para os pacientes e famílias que participam. Na casa, dois cômodos servem como motivação extra para superar a doença: o "cantinho da beleza" e o "sino da vitória".

"Maquiamos e doamos perucas e lenços porque para as mulheres, tão difícil quanto o diagnóstico é a aparência e perda dos cabelos. Então, tentamos ajudar para falar que é uma fase e que vai passar. Também colocamos um sino, que quando a pessoa consegue terminar o tratamento ela toca. É uma alegria para todos da casa e uma esperança para quem está começando o tratamento", ressalta.

Mulher de sorriso presente e de uma garra que fica evidente em suas falas, Sanches busca com a ONG transformar vidas e ser transformada. "Deus me deu o privilégio de estar aqui e quero viver para retribuir tentando ajudar e minimizando o sofrimento de outras pessoas. É o amor que nos motiva a querer continuar a lutar. É isso que queremos levar. A ONG é um local de alegria", resume ela, que ainda trabalha como tutora em uma faculdade particular.

AJUDA
Sem benefícios públicos, a ONG se mantém com a doação de terceiros, um bazar de roupas fixo e a venda de objetos confeccionados nas oficinas. Durante o ano, uma série de promoções e jantares são realizados para complementar na cobertura dos custos fixos com aluguel, água, luz, telefone e duas funcionárias, que ajudam na limpeza e cozinha da casa.

Entre as principais demandas da organização estão peças de presunto e mussarela, usadas para os lanches, e produtos de higiene. "Todos os meses é uma luta, pois vivemos de doações", afirma Sanches, que sonha em mais ações para a Tok de Amor. "Almejamos crescer e atender mais pessoas, com outras atitudes que colaboram no tratamento, como uma psicóloga, já que hoje só temos uma, que vem uma vez por semana." O projeto ficou entre os dez finalistas no 3º Prêmio Londrina de Cidadania, promovido pelo OGPL (Observatório de Gestão Pública de Londrina) em 2017.

'Conheci a instituição e não saí mais'

Josiane Cristina Atayde enfrenta o câncer pela segunda vez e é voluntária na ONG
Josiane Cristina Atayde enfrenta o câncer pela segunda vez e é voluntária na ONG



Doença severa, o câncer debilita muitas pessoas, seja no físico ou emocional. Por isso, toda ajuda neste momento de dificuldade faz a diferença. Na Tok de Amor, os pacientes encontraram o complemento para o tratamento, como o caso da empregada doméstica Angelina Rita de Oliveira. Moradora de Ribeirão do Pinhal (Norte Pioneiro), ela descobriu uma câncer de mama no início de 2017.

Desde então, precisa vir quase todos os dias ao Hospital do Câncer para consultas e tratamento, acordando às 4h da manhã. "Eu trabalhava em Curitiba e tive que me afastar para poder tratar em Londrina. Foi então que conheci a instituição e não saí mais. É um lugar muito bom para ficar, descansar e as pessoas nos tratam muito bem. Se não fosse essa casa, os pacientes não teriam onde ficar. Me sinto em casa", destaca ela, que está em fase final de tratamento.

Enfrentando pela segunda vez um câncer de mama, a executiva de negócios Josiane Cristina Atayde busca compartilhar sua força de vontade com outras pessoas. Voluntária na instituição desde o início, ela ajuda na venda de rifas, promoções, entre outras demandas. "Já sofri bastante. O tempo que dedico à ONG acaba ocupando minha cabeça e dando força para continuar focada no tratamento. Futuramente espero dedicar mais tempo", projeta. "É uma fase e vou vencer."

Com a ajuda da instituição e de amigos, Oliveira comemora o fato de estar na reta final de tratamento, o que lhe permitirá voltar ao trabalho em breve. "Todo mundo na minha cidade rezou por mim. Quando descobri o câncer não fiquei triste. Só coloquei nas mãos de Deus e pedi para eu ser calma e não ficar deprimida. Tentei ao máximo isso e consegui", celebra.

Segundo Atayde, o fato de estar com câncer tem feito com que reveja a vida e os problemas de outra maneira. "Passamos a valorizar coisas que não valorizávamos. Vemos que, se não aproveitar bem, a vida passa e você não percebe. Então, é uma maneira de começar a ver as pequenas coisas de forma diferente e aprender a dar valor para situações que não tinham tanto significado", emociona-se.


SERVIÇO

- Quem quiser ajudar a ONG Tok de Amor pode entrar em contato pelo fone (43) 3336-0056 ou 99156-0005.