Imagem ilustrativa da imagem Abertas inscrições para Vestibular Indígena
| Foto: Ricardo Chicarelli
Elon Lucas Jacintho cursa Direito na UEL e quer oferecer assistência jurídica para as comunidades indígenas



Estão abertas até o dia 9 de setembro as inscrições para a 16ª edição do Vestibular dos Povos Indígenas. Sete universidades estaduais oferecem seis vagas cada para cursos de graduação. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) oferece dez vagas em cursos de graduação e técnicos pós-médios a pertencentes das etnias indígenas e residentes no Brasil.
As provas serão nos dias 30 e 31 de outubro, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Pinhão (Centro-sul). O vestibular é organizado pela Comissão Universidade para os Índios (Cuia), em parceria com as instituições estaduais. A cada edição uma instituição fica responsável pela realização das provas.
O concurso é diferenciado dos vestibulares convencionais. Os candidatos escolhem primeiro a universidade onde querem estudar e se aprovados definem o curso. Participam, além da Unioeste e UFPR, as universidades estaduais de Londrina (UEL), de Maringá (UEM), de Ponta Grossa (UEPG), do Paraná (Unespar), do Norte Pioneiro (Uenp) e do Centro-Oeste (Unicentro).
Os candidatos fazem provas oral e objetiva com cinco questões de cada disciplina do ensino médio, além da redação. "É um vestibular temático. No primeiro dia, eles fazem uma prova oral para avaliarmos a proficiência da língua portuguesa e se eles têm compreensão do conteúdo", explicou o presidente da Cuia Estadual, Wagner Roberto Amaral,
A prova oral não é nenhum bicho de sete cabeças, mas pode ser um obstáculo para quem é mais tímido. Por isso, o estudante de Direito da UEL, Elon Lucas Jacintho, de 25 anos, da etnia Guarani, aconselha os candidatos a praticarem a conversação em público. "Tem que se desinibir, falar com as pessoas. Na prova oral, eles dão um texto para lermos e um tema para discorrer. É como uma interpretação de texto", comentou.
Jacintho contou que a prova oral foi tranquila. A dificuldade foi maior nas questões objetivas. Ele prestou o concurso duas vezes. Na primeira escolheu a Uenp, passou e chegou a cursar Direito em Jacarezinho por uns oito meses. Porém, o sonho de estudar na UEL falou mais alto e fez novamente o vestibular em 2013.
Natural da Comunidade Laranjinha, em Santa Amélia (Norte), o jovem quer concluir o curso, passar no exame da Ordem dos Advogados (OAB) e prestar assistência jurídica para as comunidades indígenas.
Mais difícil do que superar a concorrência no vestibular, para Jacintho foi a adaptação da vida fora da aldeia. "A gente sente uma rejeição das pessoas. Muitas nem sabem que têm índio na universidade", disse. A qualidade do ensino nas aldeias também pesou nos primeiros meses. "O ensino fundamental e médio é fraco e daí a gente sente o peso nas disciplinas", avaliou.
Em 15 anos de realização do Vestibular dos Povos Indígenas já foram oferecidas 577 vagas. Hoje, 163 índios estudam em universidades estaduais. Na UEL são 34 matriculados. Mais de 50% escolhem os cursos de licenciatura na área de educação. Quarenta e oito já concluíram os cursos.
A intenção da Cuia é ampliar para 10 o número de vagas oferecidas por cada instituição, já que existe um interesse dos indígenas de aumentar o nível de escolaridade. "Hoje, a maioria sai do terceiro ano (do ensino médio) e já quer fazer o vestibular. Até pouco tempo atrás, tinha reservas que não haviam mandado nenhuma inscrição. Agora, tem bastante gente com vontade de fazer o curso superior", comentou Jacintho.
Em 2015, a Cuia recebeu 495 inscrições, sendo que em 2014 fora 420 inscritos. "Com o aumento das matriculas na educação básica também houve um interesse maior pelo vestibular. Também percebemos uma procura pela pós-graduação. Temos índios no mestrado. No Brasil, são 11 mil estudantes indígenas na graduação e um número relevante no mestrado e doutorado", afirmou Amaral.

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